O Natal na região Minho tem sofrido fortes desfigurações na sua vivência mais tradicional, mas ainda preserva, nos meios mais rurais e nas famílias mais alargadas, alguns dos costumes mais antigos. O Minho é a mais verde região de Portugal e o Natal tem bem presente esta cor: no musgo dos Presépios e no Vinho Verde único no mundo.
A “viagem” natalícia começava – e para algumas crianças privilegiadas de hoje ainda começa –, não com a carta ao Pai Natal mas com um passeio pelas bouças e terrenos pedregosos em busca do melhor e verdejante musgo com o qual se construía o mais belo presépio. Este era formado não apenas com o musgo mas também com pedrinhas, pinhas, serrim e as mais diversas figurinhas em barro pintado. Era num dos cantos mais frequentados da casa (na sala ou na cozinha) que surgia a recriação, em miniatura, do quadro do Nascimento de Jesus e da respetiva Árvore de Natal.
A tradição minhota fazia valer o sobreiro como a mais genuína árvore natalícia, mas os cuidados da preservação da espécie e a abundância do pinheiro, fizeram com que recaísse sobre o segundo a facilidade e a preferência nesta quadra.
Bastião do catolicismo em Portugal, as crianças do Minho foram ensinadas a que quem trazia os presentes ou prendas de Natal era o Menino Jesus e não o «coca-colado» Pai Natal. Mas o segundo, à força do mercantilismo da quadra, conseguiu subalternizar o Menino que é a raiz de toda a festa do Natal.
O próprio Presépio, preparado nas vésperas da festa, era um organismo «vivo»: a criançada ia mexendo nas personagens e o Menino Jesus só era colocado na manjedoura na noite de consoada. Até lá, os pastores com as suas ovelhas «passeavam-se» pelo presépio e os Reis Magos peregrinavam desde os seus castelos em busca da gruta de Belém, onde encontravam Maria e José, com o menino conchegado nas palhinhas, debaixo do bafo do burro e da vaca.
A Ceia de Natal minhota era preparada a preceito. Quanto maior a família mais feliz seria o Natal. À mesa era colocado o melhor bacalhau cozido com as batatas e os legumes da horta. O Vinho Verde acompanhava o repasto, desde misturado com o azeite no prato à malga que cada um bebia amiúde. O prândio tinha por epílogo os doces do preceito: aletria, mexidos ou formigos, as rabanadas e o bolo-rei.
Naquela noite ninguém levantava a mesa. Os mais velhos acreditavam que as “alminhas” dos antepassados vinham tomar parte do alegre e familiar banquete. Este é um costume que está ainda arraigado em muitas localidades minhotas.
Come-se e bebe-se para além da norma e ninguém censura os excessos. Tradicionalmente, as famílias esperavam pela hora da Missa do Galo para poderem beijar o Menino Jesus. Desde os doces à hora da Missa, pequenos e grandes entretinham-se à volta da lareira, onde ardia o “canhoto de Natal”, jogando às cartas ou, com os pinhões, à piorra de quatro faces: Rapa; Tira; Deixa; Põe. Para vencer o gelo da noite – porque se ia a pé para a igreja – havia ainda os que aqueciam o vinho na lareira e lhe juntavam açúcar, mel e canela. Não era de estranhar, por isso, que a Missa do Galo fosse das “mais bem cantadas” do ano.
Para os mais pequenos, as prendas surgiam “miraculosamente” junto do Presépio após a Missa do Galo, colocadas no sapatinho que lá tinham deixado. No almoço do dia 25, servia-se a “roupa velha”, feita com as sobras da ceia da noite de consoada. Este prato era secundado, para os que ainda tivessem barriga, com um assado ou os rojões à moda do Minho.
Artigo do jornal «Diário do Minho» | Álvaro Magalhães | fotos: Avelino Lima
Edição partilhada especial de Natal
O «barlavento» aceitou o desafio que Marsílio Aguiar, diretor do «JM – Jornal da Madeira» lançou a um conjunto de títulos publicados de norte a sul de Portugal, Açores inclusive. Um projeto pioneiro e independente de partilha de histórias com objetivo de, em cada jornal regional, celebrar o Natal de todo o país. Participam na iniciativa os jornais «Aurora do Lima»; «Diário do Alentejo»; «Diário do Minho»; «Diário Insular»; «JM – Jornal da Madeira»; «MAIS/Semanário»; «Notícias da Covilhã»; «O Almonda»; «Região de Leiria».