Projeto hoteleiro «ressuscita» e ameaça Reserva Natural dos Salgados

  • Print Icon

Ambientalistas preocupados com o «ressuscitar» do projeto que ameaça a criação da futura Reserva Natural da Lagoa dos Salgados.

Entrou em consulta pública, no dia 31 de janeiro, o megaprojeto turístico imobiliário previsto para a Praia Grande (Silves), o qual inclui três hotéis, dois aldeamentos, espaços de animação e restauração, uma área comercial, piscinas exteriores e um campo de golfe de 18 buracos, totalizando 4000 camas, junto à Lagoa dos Salgados, em área proposta para classificação como Reserva Natural pelo Estado Português.

Ainda durante a análise da proposta de classificação da Lagoa dos Salgados como área protegida de âmbito nacional, como Reserva Natural, apresentada no final de 2021 pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), surgiram em consulta pública dois Relatórios de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE), para um megaprojeto turístico no mesmo local.

Segundo alerta hoje a Associação Almargem, «este projeto conflitua» com a proposta de classificação, e com a preservação dos valores naturais e culturais identificados, pelo que estas Consultas Públicas colocam fortes preocupações ao Movimento Participativo Lagoa dos Salgados e a todos os cidadãos que expressaram o seu apoio à criação da Reserva Natural.

Reserva Natural da Lagoa dos Salgados

Assim, o movimento «vê com desagrado e preocupação esta insistência dos promotores em submeter de novo o projeto a RECAPE, numa tentativa de colocar em causa o processo de criação desta nova reserva natural e esperam que da parte das entidades públicas exista uma posição firme que inviabilize definitivamente este empreendimento».

Consideram ainda que, «uma vez que o projeto do Plano de Pormenor (PP) está a ser analisado em dois RECAPES, devem ser considerados os impactos cumulativos das propostas de cada uma das áreas, tendo em conta fazerem parte de um modelo territorial integral».

Faz-se notar que «a recomendação para a classificação da Lagoa dos Salgados como Reserva Natural foi unanimemente votada favoravelmente no Parlamento e que, em 2018, este mesmo projeto turístico agora em consulta pública, mas nessa altura englobado num só processo, recebeu uma decisão desfavorável por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve sobre a Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (DECAPE) resultando estes RECAPE da apresentação dos promotores das medidas que foram identificadas na DIA».

Além disso, argumentam os ambientalistas «a proposta de classificação da Reserva Natural está apoiada num relatório técnico elaborado pelo ICNF, com fortes bases científicas, com vista à preservação de habitats protegidos, importantes para espécies com interesse para a conservação a nível comunitário. Designadamente o endemismo Linaria algarviana, bem como outras espécies de flora, incluindo plantas ameaçadas de extinção em Portugal como Mandragora autumnalis e Thesium humile, as quais irão integrar o Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados, e ainda todo o complexo formado pelas duas zonas húmidas existentes, pelo cordão dunar e pelo mosaico de campos agrícolas, pomares de sequeiro e prados secos, o qual alberga milhares de aves, que ali nidificam, invernam e repousam nas suas viagens migratórias».

O movimento relembra que o Estado Português encontra-se também comprometido internacionalmente, no âmbito da Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030, a proteger e inclusive a aumentar as áreas protegidas em toda a UE, alargando «as zonas Natura 2000 atuais, garantindo uma proteção estrita das zonas com elevado valor em termos climáticos e de biodiversidade».

Por isso, «a aprovação deste projeto apresenta um enorme impacto sobre os valores únicos daquele que é um dos últimos redutos naturais da costa sul algarvia, pelo que deverá ser analisado de acordo com o contexto, desafios e ameaças atuais neste território».

A consulta pública para os RECAPES termina a 18 de fevereiro (perfazendo 15 dias úteis), «um prazo que é manifestamente curto para o volume de documentação a analisar».

Proposta de criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados foi apresentada ontem em Pêra.

«Para permitir pareceres informados, o movimento avançou com um pedido formal de prorrogação de prazo à CCDR Algarve, o qual foi indeferido por aquela entidade. O movimento lança o apelo para que, mais uma vez, a sociedade civil se faça ouvir através de uma forte participação informada, estando a ser compilados os aspetos que têm impactos mais significativos no território e que brevemente serão disponibilizados».

O Movimento Participativo Lagoa dos Salgados é constituído por novo Organizações Não-Governamentais (ONG) de Ambiente: Almargem, A Rocha, ANP|WWF, Vita Nativa, LPN, Quercus-ANCN, Sociedade Portuguesa de Botânica, SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, ZERO, empresas de animação turística e cidadãos em nome individual.