Alexandre Pereira, deputado municipal do PAN em Olhão, está preocupado com a pressão «crescente» sobre a Ria Formosa.
Alexandre Pereira, deputado municipal do PAN em Olhão, reuniu com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para «demonstrar a sua preocupação com a pressão, cada vez maior, sobre os frágeis ecossistemas do Parque Natural da Ria Formosa (PNRF) e, ao mesmo tempo, saber o que está a ser feito para descobrir as causas dos episódios de mortalidade excessiva de bivalves na Ria.
O deputado começa por referir que «praticamente nasci com os pés na Ria. Todas as recordações de criança me transportam para as margens deste local único. Tem sido com tristeza e muita preocupação que tenho assistido ao agravar da degradação de todo o ecossistema. As ameaças são imensas e a pressão tem vindo a agravar-se ano após ano, tanto pelo aumento do turismo e consequente subida do número de embarcações que diariamente navegam nos seus canais, como pelo surgimento de espécies exóticas e invasoras, como é o caso da Caulerpa prolifera, que estão a prejudicar gravemente este único e complexo sistema lagunar».
Por outro lado, diz o deputado, «o problema das descargas ilegais de águas residuais não tratadas parece não ter solução, o que, aliado à fraca oxigenação, ao aumento da temperatura das águas e, mais recentemente, ao aumento da quantidade de viveiros de ostras, está a resultar numa degradação cada vez mais acentuada da nossa Ria Formosa».
«Há muito tempo que questiono qual é a real capacidade de carga da Ria Formosa, quanto aguenta este ecossistema? Mas se em tempos a pergunta era direcionada para o número de embarcações que navegam todo os dias, com todos os impactos negativos e consequências na qualidade das águas e nas pradarias marinhas (ancoragem de embarcações), surge agora mais um elemento a adicionar à já complexa equação. Se, por um lado, o regulamento do PNRF proíbe a expansão da área de viveiros, já a conversão de viveiros de amêijoa-boa para ostras é hoje uma realidade e motivo de grande preocupação, tendo em consideração as estratégias de alimentação das ostras, podendo este aumento resultar numa redução do alimento disponível para todas as outras espécies (plâncton, algas e alimentos diversos em suspensão)», alerta.
Alexandre Pereira lembra ainda que «a Ria Formosa é caracterizada por uma vasta riqueza e diversidade biológica e ecológica, mas é também um espaço fortemente humanizado. O escoamento agrícola proveniente desta atividade em que dominam as culturas permanentes de carácter intensivo, as extensas áreas de lazer, os campos de golfe, os efluentes de criação animal e aquicultura, ao que se soma o lixo marinho resultante da pesca e do turismo, são pressões constantes no interior deste sistema lagunar que também têm de ser consideradas».
«Um dos efeitos visíveis das alterações climáticas é sem dúvida a diminuição da pluviosidade. Ora, se chove menos, menos sedimentos e nutrientes chegam a este ecossistema. Por outro lado, devido à complexidade e circulação restrita, e dependendo da amplitude das marés, apenas parte da água da Ria é trocada e renovada diariamente com o Oceano Atlântico. Se considerarmos ainda que existem Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) domésticas e industriais a descarregar os seus efluentes no interior do Sistema Lagunar da Ria Formosa, é possível ter uma noção da pressão a que a Ria Formosa está sujeita», aponta.
«É por isso importante parar, reunir equipas multidisciplinares com uma real vontade de resolver alguns destes problemas, através de uma gestão adequada, que permita a redução de pressões derivadas das atividades humanas, para uma melhor sustentabilidade futura, e evitar a todo o custo o colapso da Ria Formosa».