ETAR Faro/Olhão vai estudar produção do biopolímero Kaumera

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A Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) Faro/Olhão vai estudar a produção do biopolímero Kaumera, matéria-prima de base biológica que pode substituir petroquímicos.

A primeira instalação móvel de extração do biopolímero Kaumera (KEI) a partir de lamas aeróbias granulares do sistema de tratamento NEREDA entrou em operação na ETAR de Utrecht, nos Países Baixos, em junho.

A unidade móvel KEI foi desenvolvida no âmbito do projeto Water Mining, tendo como objetivo a realização de testes a nível internacional, para a extração do biopolímero, atendendo às condições locais.

Após três meses de operação bem-sucedida, a KEI móvel foi desmontada e transportada para a ETAR de Faro/Olhão, aonde chegou no início de setembro.

Após finalização da montagem dos circuitos hidráulicos e elétricos foram realizados os respetivos ensaios com água de serviço.

A Águas do Algarve SA, na qualidade de parceiro beneficiário do projeto, está a prestar todo o apoio necessário para a boa operacionalidade da unidade KEI móvel nesta recente infraestrutura.

Para o efeito, providenciou todos os meios necessários, tais como a construção de uma laje em betão para assentamento da KEI móvel e a aquisição de equipamento elétrico (cabos de alimentação e disjuntor) e de reagentes químicos, entre outras utilidades associadas aos circuitos de água e lamas.

A unidade móvel KEI será operada pela Universidade Técnica de Delft com apoio da empresa.

Agora estão a ser realizados ensaios com a unidade KEI que permitirão comparar os resultados no Algarve, com os obtidos em Utrecht.

Esta análise é importante, tendo em consideração que as instalações têm diferentes climas e diferentes características das águas residuais, como por exemplo, a afluência de água salgada ao sistema de drenagem da ETAR de Faro/Olhão.

Também serão avaliadas as possíveis aplicações do biopolímero Kaumera obtido em Faro/Olhão face ao produzido nos Países Baixos.

Neste sentido, conta-se com a colaboração da Universidade do Algarve, ao nível do curso de Mestrado do Ciclo Urbano da Água, na identificação das aplicações do Kaumera, que revelam ter especial interesse na região.

Por exemplo, além da capacidade bioestimulante do crescimento das culturas, a capacidade de absorção de água da Kaumera, pode ter um interesse especial para o sector agrícola local.

A unidade móvel KEI foi inaugurada na ETAR de Faro/Olhão no dia 28 de outubro, com a presença de 17 entidades representadas por cerca de 30 participantes, destacando-se a Universidade Técnica de Delft e Royal Haskoning DHV.

O que é biopolímero Kaumera?

Kaumera é uma matéria-prima de base biológica, versátil, que é extraída das águas residuais, sobretudo de sistemas de lamas aeróbias granulares.

Pode ser usada em muitas aplicações, como bioestimulante do crescimento de culturas e constitui um excelente substituto para produtos petroquímicos.

Hoje existem dois locais de produção do biopolímero Kaumera, em Zutphen e em Epe, nos Países Baixos, sendo crescente o seu interesse desde a data de lançamento, em 2019.

As várias vertentes do biopolímero Kaumera foram inicialmente desenvolvidas através de uma parceria entre entidades gestoras neerlandesas (Waterschap Vallei en Veluwe, Waterschap Rijn en IJssel), sector de I&D (Stichting Toegepast Onderzoek Waterbeheer, STOWA, e Universidade Técnica de Delft) e tecido empresarial (Royal HaskoningDHV; Chaincraft e Koppert).

O projeto Water Mining

A unidade móvel KEI foi desenvolvida como parte do projeto Water Mining.

Este é um projeto de pesquisa multidisciplinar financiado pela União Europeia (UE), através do programa Horizonte 2020, focado em soluções inovadoras e circulares para a gestão da água, sendo liderado pela Universidade Técnica de Delft.

No projeto Water Mining são desenvolvidas seis instalações à escala piloto em Chipre, Espanha, Portugal, Itália e Países Baixos, num trabalho conjunto entre os 38 parceiros internacionais nas várias vertentes, institucionais, governamentais, indústria e ciência e tecnologia.

Por meio dessas atividades, o projeto desenvolve modelos de negócio inovadores para, entre outras aspetos, potenciar a recuperação de subprodutos a partir de efluentes domésticos e industriais.

Nas atividades relacionadas com o biopolímero Kaumera os parceiros principais do projeto Water Mining são a Universidade Técnica de Delft, Royal HaskoningDHV, Wetsus, Lenntech, ACCIONA e a Águas do Algarve, SA.

O comissionamento e operação do piloto em Utrecht decorreu conforme planeado, refletindo o bom trabalho e cooperação de todos os parceiros envolvidos no projeto.

Durante os primeiros meses de operação foram obtidos dados necessários para futura aplicação da instalação à escala real.

A produção do biopolímero esteve em linha com outras instalações existentes nos Países Baixos. Cerca de 25 a 30 por cento da matéria orgânica presente na lama granular foi extraída, na forma de Kaumera.

Os resultados serão apresentados em breve num simpósio que está previsto realizar-se no corrente mês novembro.

Instalação Móvel de Extração de Kaumera (KEI)

O acesso à água, os custos energéticos, ambientais e económicos relacionados são um dos maiores desafios para a sociedade hoje.

De acordo com o Grupo de Recursos Hídricos 2030 do Banco Mundial, a procura global por água doce até 2030 deve superar o abastecimento sustentável de água.

O projeto de mineração de água tem como objetivo enfrentar este desafio e ajudar a garantir o acesso à água limpa e ao saneamento, explorando fontes alternativas de água e desenvolvendo soluções inovadoras para uma gestão sustentável da água, incluindo a exploração de águas residuais urbanas e industriais e a dessalinização das águas do mar.