António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, admite «medidas mais sérias» no que toca ao consumo de água no início de 2023.
O racionamento do consumo de água no Algarve é cada vez mais uma possibilidade no horizonte próximo, caso a seca persista.
«Se não chover em outubro, novembro e dezembro, acredito que em janeiro ou fevereiro do próximo ano, teremos de aplicar medidas restritivas para todos. No fundo, o objetivo será fazer render a pouca água que temos por mais tempo», diz António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e autarca de Olhão.
«O presidente da Administração de Região Hidrográfica (ARH)/ Agência Portuguesa do Ambiente (APA) [Pedro Coelho] deixou essa hipótese presente» na última reunião da AMAL, em julho.
«Explicou os vários cenários e pediu a colaboração de todos os municípios, porque os números demonstram que, nos últimos dois meses, comparativamente a igual período de 2019, há um aumento de 15 por cento no consumo do ciclo urbano, o que num período de seca não é normal acontecer. Todos os consumidores devem ter mais cuidado.
Será, portanto, importante tomar medidas que tenham uma repercussão direta neste consumo e também ao nível da sensibilização», aponta o também presidente do município de de Olhão.
Em julho, além dos planos que estão em marcha, os 16 presidentes de Câmara do Algarve decidiram fechar as piscinas interiores, onde «todos os dias a água é renovada entre cinco a 10 por cento», encerrar as fontes ornamentais e reduzir a rega em relvados públicos.
«Às vezes até de uma forma radical», como é o caso de Olhão, onde «cerca de 80 a 90 por cento da relva», depois de secar, será substituída por espécies autóctones e suculentas em «jardins mediterrânicos», mais resilientes e melhor adaptadas a esta realidade.
«Não se trata apenas da poupança água. Trata-se também de dar um alerta à população, pela via do choque, da gravidade da situação».
Outro sinal de alarme é a constante descida do nível da albufeira da barragem de Odelouca, o que pode vir a complicar a disponibilidade hídrica no Barlavento algarvio. No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a ligação do sistema intermunicipal de abastecimento está a ser reforçada para garantir um caudal mais robusto.
Questionado sobre a futura central de dessalinização, António Miguel Pina rejeita a polémica sobre a escolha da localização onde será instalada. «Numa primeira fase foram apontados sete possíveis locais. Atualmente, há duas hipóteses que dão resposta a toda uma série de pré-requisitos. Um local é em Albufeira, já no limite com o concelho de Loulé, e outro em Odiáxere, no concelho de Lagos».
Cada local será alvo de um estudo de impacte ambiental. A central terá que ficar próxima do local de captação de água do mar, afastada de zonas ambientalmente sensíveis, e estar próxima de uma estação elevatória.
«Se olharmos para o litoral algarvio, o Sotavento tem duas áreas sensíveis que são o Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António e a Ria Formosa. Pelo meio temos o Trafal e Almargem em Loulé, a Lagoa dos Salgados em Albufeira, a futura Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário da Baía de Armação de Pêra, a Ria de Alvor, e no extremo oeste, a Costa Vicentina que também é uma área protegida. Ou seja, se excluirmos tudo isto, sobra menos de 30 por cento da frente marítima do território», detalha.
Portanto, «a escolha do local é apenas uma questão de constrangimentos».
Em relação às lamas e subprodutos da dessalinização, «o problema é que de toda a água retirada do mar, metade fica potável e a outra metade fica com o dobro do sal que tinha», descreve de forma simples.
«Nada se perde, tudo se transforma. Por isso é preciso assegurar que não existe vida marinha de alto valor que poderá ter alguma dificuldade em sobreviver no ponto de saída da água com o dobro da salinidade» com que existe no oceano.
A obra, orçada em 50 milhões de euros, será da responsabilidade da Águas do Algarve, ao abrigo do PRR, a construir até 2026, embora o prazo, devido ao contexto internacional e aos danos colaterais da guerra na Ucrânia, possa vir a ter de ser prolongado pelas autoridades europeias.
«Temos todos de falar verdade e de procurar soluções. No final de setembro, a ARH terá de fazer um novo ponto de situação. Mas a minha perspectiva é que, sem contar com o chamado volume morto das albufeiras, só temos água até outubro do próximo ano. Se não chover no próximo outono e inverno, acredito que teremos de tomar medidas mais difíceis logo em janeiro» de 2023.