Central Fotovoltaica de Alcoutim quer revolucionar o panorama energético

  • Print Icon

Central Fotovoltaica de Alcoutim ganha o nome de Riccardo Totta e quer revolucionar o panorama energético do país com implementação de sistemas de armazenamento.

A Central Fotovoltaica de Alcoutim, que ganha o nome de Central Fotovoltaica Riccardo Totta, numa homenagem ao pai do proprietário dos terrenos, também ele um homem da engenharia e um precursor no uso da tecnologia em prol da sustentabilidade, foi inaugurada na manhã de sábado, dia 9 de outubro.

A cerimónia decorreu na subestação local e estiveram presentes o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, o vice-presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Paulo Paulino, assim como representantes das diferentes entidades envolvidas nas várias fases de desenvolvimento do projeto.

A Central Fotovoltaica Riccardo Totta ocupa uma área descontínua de 320 hectares.

Localizada nas freguesias de Vaqueiros e Martim Longo, no concelho de Alcoutim, no nordeste algarvio, a Central Fotovoltaica Riccardo Totta, com uma potência de 219 Megawatts, é a maior, atualmente, a operar em Portugal e uma das maiores da Europa não subsidiada, promovida pela WElink Energy/Solara4 em parceria com a China Triumph International Engineering Company (CTIEC).

Inicia-se, agora, o processo de energização da Solara4, na sua total capacidade de 219 MW, «que deverá ficar concluído até ao final do mês», adiantou Hugo Paz, diretor de projetos da WElink para a Península Ibérica.

Inicialmente previsto para 800 hectares no estudo de impacto ambiental, o parque solar ocupa apenas uma área descontínua de 320 hectares, mantendo grandes áreas livres e corredores verdes entre os 661.500 painéis instalados, que vão gerar 382 GWh de energia limpa e capacidade para abastecer 200 mil habitações, o que corresponde a uma redução de 326 mil toneladas de emissões de dióxido de carbono por ano, uma contribuição fundamental para que Portugal alcance as metas de energias renováveis previstas no Programa Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030).

Inauguração na subestação da Central Fotovoltaica Riccardo Totta.

«Este bem público de produzir eletricidade a partir de fontes renováveis e sem emissões é ainda mais atual face ao cenário de aquecimento do Planeta», disse o ministro João Pedro Matos Fernandes.

Alvo das atenções dos investidores estrangeiros, Portugal é um dos países «com as tarifas mais baixas do mundo» e perante a crise energética que se atravessa, «estamos mais bem preparados do que os outros», referiu.

«Acompanhamos com muita preocupação o aumento do preço do gás, que está ainda na origem de uma parcela com expressão na eletricidade que é produzida em Portugal e que acaba por contribuir para a fixação do preço da eletricidade. Mas sabemos bem como se combatem os preços altos: apoiando projetos como este».

E com a concretização da Central Fotovoltaica, o governante sublinhou o «contributo essencial para assegurar que o país cumprirá os seus compromissos ambientais e que a eletricidade será mais barata».

João Pedro Matos Fernandes.

Com um investimento previsto de 200 milhões de euros, a obra acabou por custar 170 milhões de euros, tendo criado postos de trabalho (500, em picos, durante a construção; 15 a 20, durante a fase de operação).

«Este foi o maior investimento alguma vez feito no concelho de Alcoutim», afirmou o vice-presidente da autarquia, Paulo Paulino.

Além de revitalizar o comércio local, a Solara4 estabeleceu um protocolo com os Bombeiros locais para fornecimento de uma ambulância totalmente equipada. Para os responsáveis do projeto, esta é apenas a primeira fase de algo grandioso.

«Pretendemos continuar a desenvolver o seu potencial com a implementação de sistemas de armazenamento que irão ser determinantes para revolucionar o panorama energético do país, nomeadamente, ao nível da otimização do custo da energia», disse Hugo Paz.

Paulo Paulino, vice-presidente da Câmara Municipal de Alcoutim.A orografia montanhosa da Serra do Caldeirão, bem visível desde a subestação onde decorreu a cerimónia de descerramento da placa de inauguração, tornou este projeto num case study a nível mundial e um desafio para a Engenharia.

É a partir deste local, que 40 postos de transformação fazem a ligação à subestação da Rede Elétrica Nacional (REN), em Tavira, depois da Central Fotovoltaica Riccardo Totta ter recebido, a 15 de setembro, a licença de exploração por parte da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Comparativamente, a Central Fotovoltaica Riccardo Totta é cerca de cinco vezes superior à Central da Amareleja, que, em 2008, era a maior central solar do mundo.

Este é o segundo projeto fotovoltaico de grande escala não subsidiado que a WElink e a CTIEC desenvolveram em Portugal, depois de concluída a central solar Ourika, em 2018, com uma potência instalada de 46 Megawatts, 142 mil painéis fotovoltaicos e capacidade para abastecer 23 mil lares por ano.

Subestação do parque solar que faz a ligação à rede elétrica nacional.

Sobre este última, Hugo Paz, diretor de projetos da WElink para a Península Ibérica, sublinhou que «apresenta um desempenho acima das expectativas do ponto de vista energético. Encontra-se também completamente integrada na natureza e preserva atualmente o habitat natural de várias espécies endógenas, como revela o avistamento de um lince ibério, recentemente, no local».

Sobre Maurizio Totta

Investe em países onde conhece a língua, por isso, começou a aprender português, em 2015, quando adquiriu a Finca Rodilla – é também fluente em italiano, alemão, inglês, francês e espanhol. Reconheceu no Algarve todas as condições para um grande projeto de aproveitamento da energia solar e a existência de um recurso inesgotável e precioso: o sol.

Filho de mãe austríaca e pai italiano, Maurizio Totta nasceu em Itália, formou-se em Engenharia Mecânica, seguindo os passos do pai, Riccardo Totta, um empreendedor que quis pôr os meios tecnológicos mais avançados da época ao serviço da reconstrução da Europa pós-Segunda Guerra Mundial.

Maurizo Totta.

Maurizio desenvolveu a sua carreira profissional na liderança dos negócios de família, na Áustria. Desde 2013, investe em energias renováveis, dando continuidade a um primeiro investimento feito na Argentina, em 1977.

Tem também projetos em curso na floresta amazónica, no Brasil, sempre com a sustentabilidade no horizonte. Tinha vindo a Portugal duas vezes, fugazmente, quando um amigo lhe sugeriu a compra do terreno onde viria a nascer a central solar fotovoltaica, no concelho de Alcoutim, no noroeste algarvio.

Sobre Riccardo Totta (1924 – 2016)

Formou-se em Engenharia Mecânica, na universidade Técnica de Torino, em 1949. Dois anos depois, começou a trabalhar, na Società Istrumenti Macchine Utensili (SIMU), onde chegou a CEO e acionista maioritário, em 1965. Apesar de ter abandonado, oficialmente, o cargo em 1997, continuou a laborar na SIMU até 2013.

default

Ao longo dos anos, quis ajudar algumas das mais importantes empresas italianas a tornarem-se mais eficientes e melhorar a qualidade dos seus produtos – entre outras, colaborou com Aeritalia, Agusta, Alfa Romeo, Breda, Falk, Fiat, Ferrari, Piaggio, Zanussi e a Casa da Moeda italiana. No mês da inauguração da Central Voltaica que ganha o seu nome, assinalam-se cinco anos da sua morte. Sobre Hugo Paz: Natural da Figueira da Foz, tem 46 anos, é engenheiro mecânico pela Universidade de Coimbra.

Começou a trabalhar em gás natural, depois energia eólica, em Portugal e Espanha, até 2013. A seguir, mudou-se para o Chile, onde participou num grande projeto de energia eólica e solar, até se juntar à equipa da WElink para liderar os projetos do grupo na Península Ibérica. A central Riccardo Totta é o seu segundo projeto com o consórcio sino-irlandês, depois de Ourika 46MW, em 2018.