Surtos na construção civil são 40 por cento dos casos positivos no Algarve

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Portimão e Albufeira são os concelhos algarvios com mais casos positivos nos últimos 14 dias. A origem dos surtos no Algarve está, na sua maioria, relacionada com trabalhadores do sector da construção civil.

No município de Portimão, o número de casos positivos relacionados com a construção civil já ascende os 150. O surto acabou por se espalhar e abranger ainda dois estabelecimentos de ensino. Quem o afirmou foi Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde, durante a conferência de imprensa regional sobre a situação da pandemia, na manhã de segunda-feira, dia 12 de abril, nas instalações do Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, em Loulé.

«Em Portimão, a explicação terá sido o acontecimento de um grande número de casos relacionados com a construção civil. O surto começa por familiares desses mesmos trabalhadores, uma vez que são pessoas habituadas a trabalhar mesmo que não se sintam muito bem. Os primeiros casos surgem das suas famílias. Quando se conseguiu visualizar que havia a possibilidade de surto, já existem vários casos. Conhecemos 153 casos em Portimão relacionados com esta situação», começou por dizer aos jornalistas.
Com origem no mesmo surto, estão «outros clusters, que se desenvolveram noutros espaços ou sectores. Um deles, com alguma dimensão, foi na Creche e Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia de Portimão. Outro, na Escola Básica Major David Neto», afirmou a responsável.

Ainda no mesmo município, contabilizou-se um «surto grande relacionado com uma padaria, responsável por mais dois clusters com alguma dimensão, em dois jardins de infância, um em Lagoa e outro na Mexilhoeira Grande. Trata-se de um surto com 62 casos confirmados», deu nota Guerreiro.

Também no concelho de Albufeira, nos últimos dias, houve um aumento significativo no número de casos, em parte devido a um surto no sector da construção civil.

A responsável regional tem a informação que «na sua maioria, as pessoas já estariam em isolamento, mas tratam-se de clusters familiares, com muitos elementos, que acabam por fazer este número maior de casos. O surto relacionado com a construção civil afetou vários membros da família, com internamentos hospitalares, e que envolveram um número significativo de pessoas. Albufeira corresponde agora a cerca de 100 casos em 14 dias, apesar de nem todos estarem relacionados com o surto da construção civil».

Ana Cristina Guerreiro é da opinião de que existe uma particularidade que possa ter motivado à disseminação de ambos os surtos. «Estas pessoas, apesar de em grande parte serem estrangeiras, vivem com as suas famílias. Não estão todos juntos em alojamentos das empresas ou em domicílios alugados. São pessoas inseridas na comunidade, com mulheres que trabalham noutros locais e com filhos que frequentam a escola. Isso foi o que acabou por fazer a disseminação».


Questionada pelos jornalistas em que estado se encontravam ambos os surtos e de que forma a saúde pública procedeu, Guerreiro respondeu: «juntamente com a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) e a Proteção Civil foram desenvolvidas visitas de reconhecimento aos estaleiros das obras e foram feitos muitos testes. Além disso, a autarquia portimonense, reconhecendo o problema, também fez uma testagem ampla, recorrendo à Cruz Vermelha Portuguesa e ao Algarve Biomedical Center (ABC). Só no surto de Portimão foram feitos mais de cinco mil testes. Depois de reconhecidos os casos positivos as medidas são o isolamento e foi isso que as equipas fizeram».

Ainda de acordo com a delegada de saúde, os novos casos que têm surgido em Portimão, ainda relacionados com o sector da construção civil, «na grande maioria, já se encontram em isolamento profilático no domicílio». Razão que a fez assegurar que a «situação está a ficar mais controlada».

Surto do Montenegro, em Faro, está «contido»

A Escola Básica do 1º Ciclo e Jardim de Infância do Montenegro e a Escola Básica do 1º Ciclo do Montenegro, que se encontram no mesmo espaço, mas em edifícios diferentes, foram encerradas na passada sexta-feira, dia 9 de abril, devido a um surto de COVID-19. Falava-se na possibilidade da origem do surto estar relacionada com uma festa de aniversário ou com a prática desportiva num clube local.

Nesse sentido, Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde no Algarve, esclareceu os jornalistas durante a conferência de imprensa.

«Já foram testados, até ao momento, quase todos os 300 alunos e os funcionários da escola. Trata-se de um estabelecimento com dois edifícios apenas. Em relação ao clube desportivo não consigo garantir que esteve envolvido porque são os colegas locais que fazem essa investigação. No entanto, que houve prática de futebol no clube, houve. Esse tem sido o relato dos pais quando fazemos o inquérito epidemiológico. Que a origem está numa festa de anos com várias crianças da escola também temos a certeza. O que nos é dito, pelos pais, é que a festa estava relacionada com o clube desportivo».

A confirmar-se o incumprimento das medidas de saúde pública por parte do clube, a responsável garantiu que: «as medidas necessárias serão tomadas».

Apesar de terem passado apenas alguns dias após o fecho de ambas as escolas, Ana Cristina Guerreiro referiu que «a situação epidemiológica está contida e isso é o mais importante. As crianças e as suas famílias estão em isolamento. Sabemos que ao longo dos 14 dias, no período de incubação, surgem casos novos, mas em princípio esse foco está contido».