SR Berry, marca fundada por dois jovens em 2013 é hoje reconhecida como referência na agricultura sustentável. Primeira campanha de framboesas bateu recordes com 48,5 toneladas por hectare. Novas apostas são na amora e no diospiro.
Sónia Brito e Ricardo Dias, licenciados em Engenharia Civil, aproveitaram terrenos de herança em Lagoa, para desenvolver a produção de pequenos frutos vermelhos em hidroponia destinados à exportação.
O projeto iniciou com uma candidatura aos fundos europeus do PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural) e encontrou na rede da multinacional Driscoll’s [empresa especializada na venda de frutos vermelhos], uma parceria para levar a fruta aos mercados do norte da Europa.
«O escoamento da fruta foi a nossa preocupação principal. Teria de ser rentável ao nível financeiro. Após várias reuniões com diversos players surgiu a Driscoll’s. Somos produtores exclusivos e é a própria marca que trata da exportação, das vendas e do controlo de marketing. Em Lagoa produzimos, embalamos e entregamos os frutos», conta ao barlavento Sónia Brito.
Surgiu assim, a 13 de março de 2013, a empresa agroalimentar SR Berry. Desde o início que a produção de framboesa teria que respeitar o meio ambiente, integrar na natureza todas as fases de produção e desenvolvimento do fruto, e, sobretudo ter o uso mínimo de recursos, sem afetar a qualidade.
Além disso, de acordo com a responsável, a SR Berry destaca-se ainda pela rega mínima. «Em hidroponia, os nutrientes são introduzidos na água para que a planta cresça e se desenvolva de foram saudável. As plantas estão em vasos, mas estes servem apenas de suporte, uma vez que o substrato que contêm é virgem. O que alimenta a planta é a água. Todos os nutrientes necessários são introduzidos na água nas quantidades que a planta precisa consoante a fase de produção em que está», explica.
Ainda no que toca ao consumo hídrico, «as exigências e as necessidades são diferentes. Aqui, a rega é otimizada. Utilizamos tensiómetros dispersos pelas estufas para medir a tensão que existe nos vasos. Quando esta alivia, quer dizer que a planta está em ausência de água. Assim, conseguimos controlar os valores e introduzir a água necessária por cada sector», refere a empresária. Até o facto de o casal ter formação académica noutra área que não a agricultura, traz algumas vantagens.
«Destacamo-nos pela organização financeira, dos recursos humanos e de tudo o que pode ser feito de forma metódica e controlada. Nenhum de nós tinha qualquer conhecimento na área ou familiares com experiência. Isso faz com que tenhamos um maior cuidado a cada passo que damos. Quando um técnico nos diz para seguirmos determinados parâmetros e normas, nós seguimos as instruções à risca», acrescenta a empresária.
O ex-líbris da SR Berry são as framboesas que ocupam 3,5 hectares da estufa e que, logo em 2013, o primeiro ano de produção, atingiram recordes mundiais com 48,5 toneladas por hectare. A marca produz variedades diferentes em duas alturas distintas, que alternam ao longo do ano, e que precisam, em média, de cinco meses para serem colhidas.
«Temos as summer planting, que plantamos no verão e dão o fruto no outono e princípio de inverno, e temos as long cane, que são a maravilha, nome dado pela Driscoll’s, que plantamos no inverno e terminam em maio. Só não produzimos no verão porque é a altura da plantação», explicita a responsável. Fruta natural e certificada As framboesas que quase todos os dias saem de Lagoa são enviadas para a Holanda para serem distribuídas pela Driscoll’s no norte da Europa, os maiores consumidores de frutos vermelhos.
Segundo Sónia Brito, em Portugal estas frutas estão disponíveis nas lojas da cadeia LIDL.
«A Driscoll’s monitoriza e regula a plantação. Estas plantas apenas e só são cedidas a produtores exclusivos e que já têm um padrão de qualidade elevado. Estas plantas são aperfeiçoadas em laboratório, patenteadas e são alvo de ensaios para se saber quais têm mais durabilidade e maior resistência. Fazem muitos testes de qualidade até existir uma variedade comercial».
Pela primeira vez, este ano, a SR Berry está a apostar em mais dois frutos: amoras e diospiros. Os primeiros, ocupam um hectare na estufa e, apesar de ainda se encontrarem na fase da apanha, parece que também já estão a superar expetativas.
«Em média, espera-se uma produção de 20 toneladas por hectare no Algarve. Desde dezembro que já colhemos 28 toneladas por hectare e ainda não acabámos. O campo está bem florido », diz.
Em relação aos diospiros, o primeiro pomar foi plantado em maio do ano passado, sendo que em março o casal plantou mais um pomar, totalizando quatro hectares. É uma fruta que necessita de «pelo menos dois anos para a podermos colher. Estamos na fase do crescimento da planta, para ganhar estrutura, e depois aí sim, emitir os frutos», afirma
Sónia Brito. Para o futuro, a sócia-gerente da SR Berry não quer revelar muitos pormenores, no entanto garantiu «já ter tudo estudado para apostar no vinho, adega, vinha e turismo rural». Toda a fruta produzida na SR Berry é 100 por cento natural e certificada pela Global GAP e GRASP, a referência global para boas práticas agrícolas.
Uma empresa que soma prémios
A SR Berry, uma empresa agroalimentar, fundada em 2013 e sediada em Lagoa, é já uma referência nacional. Sónia Brito, a sócia- gerente, em 2015, recebeu a Menção Honrosa de Melhor Jovem Agricultor e em 2018 foi a marca a alcançar também uma Menção Honrosa, desta vez de Empresa Agrícola a Nível Nacional.
O galardão mais recente foi recebido pela responsável da empresa, em março de 2021, na primeira edição nacional do Programa TalentA, uma iniciativa da Corteva e da Confederação dos Agricultores de Portugal, que contou com mais de 90 inscrições.
O objetivo era dar visibilidade às mulheres agricultoras, de forma a combater a desigualdade de género que ainda existe em muitas áreas profissionais em Portugal.
Sónia Brito da SR Berry foi a grande vencedora. «Recebi o prémio no Dia da Mulher [8 de março]. O Algarve contou com duas candidatas. Não é muito comum dar-se visibilidade e destaque ao empreendedorismo rural feminino. Ganhei eu e foi muito bom», afirma a gerente da SR Berry ao barlavento.
SR Berry «extremamente importante» para Lagoa
Ao barlavento, Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, salienta a relevância da empresa num concelho que vive do sobretudo do turismo. «O facto de termos a possibilidade de não colocar os ovos todos no mesmo cesto, e podermos, de alguma forma, diversificar aquilo que é a nossa base económica, com projetos desta natureza, é extremamente importante», disse.
«A pandemia veio demonstrar que não podemos ficar dependentes apenas de uma única atividade, com todas as consequências que isso tem. Esta é uma forma de criar emprego e mais-valias económicas com uma atividade diferente. A mão de obra usada na época baixa é reaproveitada pela hotelaria para a estação média e alta. Vemos este tipo de projetos com muito interesse até porque há muita inovação e capacidade de gestão investida. No futuro teremos todos que utilizar muito melhor os nossos recursos, sejam humanos, tecnológicos, ou naturais».
Pedro Valadas Monteiro: «Exemplo na agricultura moderna e competitiva»
Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve, ao barlavento, considera a SR Berry, «um bom exemplo daquilo que é a agricultura moderna, competitiva, bem inserida no mercado, mas com cuidados na maneira como produz. O casal de empresários tem preocupações na gestão da água, em fazer uma gestão o mais otimizada possível, numa região que tem problemas de escassez hídrica. Depois, o controlo de qualidade é assegurado por um dos sistemas de certificação que é dos mais exigentes a nível mundial (Global GAP). Temos aqui um sistema integrado e estamos a falar de agricultura intensiva, o que só prova que a agricultura quando é bem feita, quando tem este tipo de gestão, é uma agricultura sustentável e que se adapta perfeitamente ao Algarve».