São Brás sugere Gago Coutinho para patrono do Aeroporto de Faro

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São Brás de Alportel celebra centenário da 1ª travessia aérea do Atlântico sul no aniversário de Gago Coutinho, sugerido para patrono do Aeroporto de Faro.

A proposta de atribuição do nome do Almirante Gago Coutinho, dadas as suas raízes familiares algarvias, como patrono do Aeroporto de Faro foi defendida esta quinta-feira, dia 17 de fevereiro, no arranque das Comemorações são-brasenses do Centenário da primeira travessia aérea do Atlântico sul.

Programa multidisciplinar e intergeracional dinamizado pelo município de São Brás de Alportel integra o programa nacional de Comemorações do Centenário da 1ª Travessia do Atlântico Sul (100TAAS) e vai envolver comunidade são-brasense.

A réplica artística do Hidroavião Fairey III «Santa Cruz» criada pelo escultor algarvio Carlos de Oliveira Correia, que homenageia a memorável primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral foi o pano de fundo para a cerimónia que marcou, na quinta-feira, dia 17 de fevereiro, o início do programa comemorativo do centenário deste feito épico que marcou a história da aviação mundial.

O monumento localizado junto às Piscinas Municipais Cobertas de São Brás de Alportel conta agora com uma Placa Comemorativa que foi descerrada pelo presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vitor Guerreiro, e pelo representante da Comissão Aeronaval das Comemorações do Centenário da 1ª Travessia do Atlântico Sul – 100TAAS  (de âmbito nacional), Tenente-General António Carlos Mimoso e Carvalho.

Gago Coutinho, com raízes familiares são-brasenses e algarvias e Sacadura Cabral, são exemplo de resiliência, perícia e audácia que Vitor Guerreiro diz rever no espirito dos são-brasenses.

«As Comemorações do Centenário, às quais o município tem a honra de se associar, conferem a merecida dignidade e relevância a esta verdadeira epopeia que marcou a nossa trajetória coletiva, a formação da nossa entidade nacional e afirmação além-fronteiras»,  referiu Vitor Guerreiro apontando que esta é uma excelente oportunidade para «valorizar a nossa Memória Comum, o nosso passado, a nossa história e as nossas gentes, para se viver o presente e projetar o futuro», tendo como fonte de inspiração esta travessia épica.

Este sentimento de respeito e orgulho nestes heróis nacionais motivou a proposta do Movimento «Cidadãos pelo Aeroporto Gago Coutinho», representado na cerimónia pelo são-brasense Almirante Martins Guerreiro.

«Atribuir ao Aeroporto de Faro o nome de Aeroporto Almirante Gago Coutinho seria uma forma de nos projetarmos no mundo, lembrando, o engenho e a capacidade criativa da gente portuguesa e o seu contributo para o desenvolvimento da humanidade», afirmou.

Seria aos olhos do Almirante Martins Guerreiro e dos cidadãos que compõem o movimento, entre os quais todos os deputados algarvios à Assembleia Constituinte, uma forma de saldar uma dívida histórica para com um dos seus maiores e propõe ainda que o Aeroporto possa ter um espaço que dê a conhecer a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul e os seus concretizadores.

Uma proposta que conta com o apoio do Município de São Brás de Alportel, tendo merecido aprovação unânime da Assembleia Municipal e tendo sido  apresentada na Comunidade Intermunicipal do Algarve em 2019.

A sua votação foi, contudo, protelada pela pandemia e o Movimento entende que 2022 é o ano certo para retomar a proposta.

Esta cerimónia contou ainda com uma palestra proferida pelo Tenente-General António Carlos Mimoso e Carvalho que deu a conhecer o percurso, conquistas e as vicissitudes da travessia momentos antes da inauguração da exposição itinerante «1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul», preparada pela Comissão Aeronaval das Comemorações do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul (100TAAS) e que vai estar patente no átrio das Piscinas Municipais Cobertas de São Brás de Alportel até 27 de fevereiro.

Programa multidisciplinar e intergeracional até ao final do ano

O programa são-brasense que assinala os 100 anos da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul vai desenvolver-se até ao final de 2022 com momentos musicais,
artísticos, literários, infantojuvenis, entre outros.

«Um programa que queremos universal, mas profundamente local e intergeracional, não apenas para assistir mas para viver e envolver a nossa comunidade de forma intergeracional», referiu a vice-presidente da Câmara Municipal que revelou alguns dos momentos-chave do calendário de eventos que decorrerá até final de 2022.

Já a 27 de fevereiro, o Ciclo de Passeios Natureza irá também ser dedicado a Gago Coutinho dando a conhecer a «Rota Gago Coutinho – a Geodesia em São Brás de Alportel», um percurso pelos 14 marcos geodésicos do território são-brasense, recentemente alvo de requalificação.

A Biblioteca Municipal Dr. Estando Louro, parceira desta iniciativa, irá apresentar entre 30 de março e 17 de junho uma exposição documental e de colecionismo dedicado à Travessia, que terá continuidade numa exposição de rua centrada neste feito histórico.

O Cineteatro São Brás e os espaços públicos do município serão palco de vários concertos e espetáculos de dança, entre os quais um concerto pela Banda de Música da Armada agendado para o dia 28 de maio.

As atividades dirigidas ao público infantojuvenil já tiveram início com a disponibilização do livro «A enigmática travessia do Atlântico Sul 1922», da autoria de Marco Pitt.

Um livro juvenil, interativo, baseado no relatório de Sacadura Cabral durante a travessia realizada com Gago Coutinho. Visitas interpretadas para escolas e para turistas, aventuras com ciência e oficinas criativas onde se inclui a construção de uma miniatura em papel do hidroavião «Santa Fé» que foi revelado ontem.

Ciclos de Tertúlias, conferências, publicações e conteúdos em formato digital integram ainda este programa concebido para dignificar a memória destes homens de grande dimensão e genialidade, que se pretende inspirador para as novas gerações e promotor de um olhar perspicaz para o futuro.

O hidroavião é o símbolo maior desta travessia e por isso, o município está a preparar um desafio artístico para desafiar toda a comunidade a lançar mãos à obra, na descoberta da arte e da ciência.

Terá Gago Coutinho origens algarvias?

O barlavento colocou esta questão a Nuno Campos Inácio, genealogista de Portimão.

«Apesar de vários biógrafos avançarem com a teoria de que o Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho nasceu em São Brás de Alportel, o que nos diz o seu registo de batismo, realizado em Santa Maria de Belém, Lisboa, é que nasceu na Calçada da Ajuda, nº 5, às 3h30 do dia 17 de fevereiro de 1869. Se a naturalidade algarvia de Gago Coutinho poderá não passar de um mito, já a sua ligação genealógica ao Algarve não oferece qualquer dúvida», esclarece.

«Gago Coutinho era filho de José Viegas Gago Coutinho e da sua prima-irmã Fortunata Maria Coutinho, ambos naturais da freguesia da Sé, Faro. O pai, marítimo, nasceu em 1834, sendo já morador em Lisboa, na Rua dos Embaixadores nº 67, quando a 6 de julho de 1867 casou na Sé de Faro com a mãe de Gago Coutinho», acresce.

«A avó paterna de Gago Coutinho, Maria do Carmo Cruz, era irmã do avô materno, Pedro da Cruz Cabeleira, ambos naturais da cidade de Faro. Já o avô paterno era natural de São Brás de Alportel. É com o avô paterno, Manuel Viegas Gago Coutinho, nascido em São Brás de Alportel e Cabo da Esquadra do Regimento de Artilharia de Faro em 1829, que surge esse apelido composto. Pelas investigações já realizadas não se conseguiu descobrir como surgiu o apelido Coutinho, uma vez que o pai era Matias Viegas Teixeira e a mãe chamava-se Bárbara Pires. Já o apelido Gago herdou–o da avó paterna, Bárbara Gago, de São Brás de Alportel», esclarece Nuno Campos Inácio.

Da genealogia até agora conhecida, com alguns ramos a recuar a 1550, «são conhecidos ascendentes das freguesias de São Brás de Alportel, Faro, Tavira, Olhão, Quelfes, Santa Catarina da Fonte do Bispo, Moncarapacho e Moura, remontando esta ligação de fora do Algarve ao século XVI».