Santa Maria Madalena, um refúgio para celíacos em Olhão

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No coração da Barreta, em Olhão, há um novo café e pastelaria que serve todos os dias receitas caseiras com produtos locais. Projeto surge no meio da crise pandémica e o proprietário ainda tem tempo para ajudar os mais vulneráveis.

A esplanada com mesas azuis e bancos brancos fazem notar que no número 24 da estreita Rua do Gaibéu, em Olhão, há um novo espaço. Abriu portas na terça-feira, dia 5 de maio, pelas mãos de Kevin Gould, um britânico residente na cidade algarvia há pouco mais de dois anos, e proprietário do restaurante vizinho «Chá Chá Chá».

A pastelaria «Santa Maria Madalena» distingue-se por ter um sortido sem glúten. «No restaurante, todas as sobremesas que servimos não têm glúten e reparámos que os clientes gostavam muito do sabor, da frescura, da leveza e do facto de conterem menos açúcar que as tradicionais. Encontrámos este espaço, mesmo ao nosso lado e arrancámos», conta ao barlavento, o proprietário Kevin Gould, natural de Manchester, em Inglaterra.

No seu país natal era jornalista gastronómico e de viagens para o jornal «The Guardian». A inspiração para o novo espaço é 100 por cento olhanense.

«Nesta casa quero mostrar a qualidade dos produtos e ingredientes locais, que são do mais alto nível da Europa. Acho mesmo que o que temos aqui é igual ou superior aos grandes mercados internacionais. Tudo o que utilizamos na pastelaria é comprado no Mercado Municipal de Olhão. As únicas coisas que importamos do Reino Unido são algumas farinhas sem glúten porque não existem em Portugal. O resto compramos aqui», revela.

Além disso, «queríamos também dar uma alternativa aos celíacos. Há também quem tenha problemas digestivos, pessoas que embora não sejam celíacas, querem comer algo mais saudável e menos pesado. Além disso, trabalhamos apenas com açúcar de cana e usamos muito menos quantidade que a pastelaria normal. O nosso objetivo é mostrar que estes doces são saborosos e acessíveis».

Da cozinha da «Santa Maria Madalena» são diariamente confeccionadas, pela pasteleira e sócia Deborah Goodman, madalenas de diversos sabores, uma sobremesa com chocolate, pão simples ou com sementes e aveia, um cheesecake e um bolo. Há ainda suspiros, bolachas doces e salgadas, compotas e doces com fruta da época e muffins. A especialidade da casa, de acordo com Gould, é a marmelada de laranja amarga, «parecida às inglesas, mas que leva três dias a confeccionar».

Juntam-se aos doces alguns acessórios de cozinha peculiares, comuns em tempos antigos, como taças e jarras de metal, colheres de pau de madeira de oliveira e aventais.

Com apenas três semanas desde a inauguração, o feedback é já positivo. «Estamos a começar devagar, mas estamos muito otimistas. As pessoas vêm cá todos os dias pelo prazer de comer algo doce, até porque outro ingrediente essencial que usamos é o amor. Aquece-nos o coração gostarem das nossas receitas», sublinha.

«Não queremos crescer, nem tenho outros planos. Estou contente com os negócios pequenos que tenho, onde posso comprar com qualidade e servir com cortesia. Não ambiciono mais. Quero apenas que ambos os negócios sejam uma parte da comunidade e façam parte do bairro. Queremos apenas que os nossos clientes estejam satisfeitos connosco», conclui o ex-jornalista britânico.

Em relação aos preços, segundo Gould, são um pouco acima dos praticados na pastelaria tradicional, mas «são os corretos e os necessários para se pagarem os ingredientes». Uma fatia de cheesecake são três euros, cada madalena e cada suspiro custam um euro e a marmelada são quatro. Um saco de bolachas são 2,50 e os pães 4,50 euros.

A pastelaria «Santa Maria Madalena» está aberta das 9h30 às 16h00, de terça a domingo. Este é um horário apenas inicial, pelo que Kevin Gould aconselha a que se envie uma mensagem para o Instagram (@santamaria.olhao) ou que se faça um telefonema (919990786) de forma a confirmar que o espaço esteja aberto. Para encomendas, basta utilizar os mesmos contactos.

Em Olhão «as pessoas ajudam-se umas às outras»

Kevin Gould nasceu em Manchester, na Inglaterra, mas mudou-se para os arredores de Londres para exercer a profissão de jornalista, no «The Guardian». A sua especialidade eram as viagens e a gastronomia, sendo que conheceu todos os cantos do mundo. Há pouco mais de dois anos, já reformado, escolheu a cidade de Olhão para viver com a sua esposa. Uma escolha fácil, nas palavras do empreendedor.

«Esta cidade é um paraíso. Adoro. Não quero trabalhar noutras cidades, quero ficar-me por aqui. A quarentena veio provar-me o que já sabia, a grande qualidade das pessoas e a cultura olhanense tão característica. Aqui as pessoas ajudam-se umas às outras e mesmo as que têm pouco, dão o que podem a quem mais precisa. É uma cidade que não existe em mais lado nenhum. Sei disso porque já viajei pelo mundo inteiro e não existe outra igual. A vida de Olhão é muito interessante. Os olhanenses são diferentes, inspiradores e com um coração enorme. Sou muito feliz em estar aqui», refere ao barlavento.

«Chá Chá Chá», um restaurante solidário

Além da mais recente pastelaria sem glúten de Olhão, a «Santa Maria Madalena», Kevin Gould é também proprietário do restaurante «Chá Chá Chá», na mesma rua, no número 19.

Abriu em abril de 2018, com um conceito simples. «Receitas com máximo cinco ingredientes, mas saborosas e com produtos de alta qualidade. Trabalhamos com a frescura e o sabor e os nossos fornecedores são todos locais. Só o café vem de Lisboa. Nesse sentido, não precisamos de fazer muito, privilegiamos a simplicidade e o respeito pelos ingredientes», relata ao barlavento.

Com a pandemia da COVID-19, o britânico apercebeu-se que na sua comunidade existiam dificuldades e «muitas pessoas com fome». Foi assim que surgiu o primeiro projeto solidário do restaurante.

Todos os dias são confecionadas 30 refeições, que incluem sopa e prato principal, com ingredientes frescos do Mercado Municipal de Olhão.

Algumas pessoas deslocam-se ao próprio espaço para usufruírem da doação, mas há ainda outras que recebem a refeição em casa.

Depois da equipa do «Chá Chá Chá» publicar nas redes sociais o trabalho solidário que estava a realizar, rapidamente chegaram doações de bens alimentares, na maioria, segundo o proprietário, de «pessoas que não são abastadas». Surgiu assim mais um projeto solidário, que iniciou na terça-feira, dia 19 de maio, o Banco Alimentar do «Chá Chá Chá».

Segundo Gould, primeiro «vamos ver como corre. O meu objetivo com estas ações é o de dar algo em troca à comunidade. Quero oferecer algo para agradecer a sorte que tenho em poder estar aqui».