Rosário Centeio Coelho, aos 103 anos de idade ainda toca acordeão

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A mais idosa acordeonista de Portugal vive no concelho de Loulé.

Rosário Centeio Coelho, a mais idosa acordeonista portuguesa viva, é uma algarvia genuína, nascida a 20 de janeiro de 1916 no Palmeiral, concelho de Loulé, no coração do Barrocal Algarvio.

A sua longa vida foi sempre simples. Trabalhou no campo, na apanha da alfarroba, da amêndoa, da azeitona e do figo, e também na horta. Teve uma mula e uma carroça que aparelhava e conduzia.

Tratava da casa e das contas da família, até porque o (segundo) marido estava longe, na Venezuela. Teve um filho do primeiro casamento e uma filha do segundo. É com ela que hoje vive, para os lados da Ribeira de Algibre, entre Benafim e o Parragil.

Durante um curto período trabalhou numa alfaiataria nos Estados Unidos da América, chamada pelo seu irmão Joaquim que por lá estava emigrado.

Hoje, a sua memória não é o que era e às vezes esquece-se do muito que já viveu. Só mesmo das modas e do acordeão (ou os foles, como carinhosamente lhe chama) é que nunca se esquece!

«Aprendi logo de pequena com o meu irmão Joaquim ‘Santos’, apelido herdado de um avô. Ele é que tocava mesmo muito bem!», conta.

A centenária refere-se a Joaquim Centeio Coelho, falecido com 99 anos de idade, conhecido acordeonista que animou muitos bailes populares por todo o Algarve e também integrou o Rancho Folclórico de Alte.

Rosário Centeio Coelho toca sempre numa concertina Hohner com mais de 50 anos, comprada em segunda mão e trazida da América pelo irmão.

Na verdade, poucas vezes atuou em público, em bailes populares, embora frequentemente acompanhasse os seus irmãos Joaquim e Manuel.

Explica a sua filha, Lídia Viegas, que «o primeiro marido não queria que ela tocasse. Tocador de acordeão era coisa para homens e uma mulher a tocar ficava feio».

O segundo marido não se importava. Mas, entretanto, Rosário já não tinha vontade de subir aos palcos. Tocava e continua a tocar todos os dias, mas apenas em casa e em festas e paródias de família e amigos.

O dia a dia da centenária é agora passado em casa. Deita-se tarde, levanta-se cedo, faz pequenas caminhadas e a seu lado está sempre a concertina. Aproveita todas as oportunidades para tocar umas modas.

«Sabe, eu quero é tocar. De dia, quando estou sozinha, ponho-me a tocar. E de noite, eu não tenho sono, também me ponho a tocar. Eu ia aos bailes, ouvia os tocadores, aprendia, chegava a casa e já sabia tocar as modas deles! Só quando tinha muito trabalho no campo é que não havia vagar para tocar. De resto, tocava sempre!», conta ao «barlavento».

Ainda hoje a minha mãe quer sempre ir aos bailes para ver os acordeonistas, diz Lídia Viegas. «Gostava muito de bailar e de ver bailar, mas nunca tirava nem tira os olhos dos tocadores. E depois vinha e vem para casa tocar e tocar!».

«Eu ainda tenho a minha concertina e ainda toco todas as modas. Ficou lá para casa, senão já estava a tocar…», diz-nos Rosário. Lídia, a filha, chama-a à razão: «Oh mãe, então não a tem aí mesmo ao seu lado?»

«Ahhh, ela está aqui ouvindo a conversa. E eu que não sabia que estava aqui! Isto tem sido a melhor coisa que eu tenho na vida. Ai que eu já me esqueço de tudo.» Riu-se, pegou na concertina e começou a tocar…