• Print Icon

Em vésperas do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, a Comunidade Judaica do Algarve anuncia a sua radicação como Comunidade Religiosa oficial.

A Comunidade Judaica do Algarve (CJA) passa a ser a quarta comunidade judaica oficial em Portugal, tendo sido inscrita como Pessoa Coletiva Religiosa (não católica) na terça-feira, dia 4 de janeiro, no Registo Nacional de Pessoas Coletivas.

O aturado processo de reconhecimento da organização foi alvo de parecer favorável por parte da Comissão da Liberdade Religiosa, presidida por José Vera Jardim.

Esta é a primeira vez que uma comunidade judaica se vê reconhecida pela Lei da Liberdade Religiosa, legislação que recentemente celebrou 20 anos de vigência.

Sendo a comunidade mais recente com esta figura jurídica específica, será porventura aquela que tem a maior proximidade de um extraordinário e antigo legado de presença judaica em Portugal, com quase dois milénios.

Os vestígios da presença confirmada destas comunidades remontam, pelo menos, ao século IV com a descoberta em Silves da lápide de Yehiel do ano de 390 da era comum, a mais antiga da Península Ibérica.

A nova comunidade reúne na sua Sinagoga Ezra & Sasson em Albufeira, na presença de uma Tora sefardita proveniente de Marrocos (que foi local de fuga de muitos judeus portugueses à data do édito de expulsão).

A sinagoga possui uma cozinha kosher certificada e tem ainda o apoio de uma loja que vende produtos alimentares kosher e artigos religiosos, fundamentais para assegurar as necessidades da comunidade judaica.

Em breve disponibilizará também um conjunto alargado de serviços de apoio à comunidade e também à comunidade externa, seguindo uma política de partilha e dinamização cultural.

Sendo uma comunidade de tradição sefardita, acolhe, no entanto, entre os seus membros, judeus de todo o mundo também com ascendência asquenazi.

Segundo os responsáveis Ido Itshaik e Claudia Sil, «o Algarve, e Portugal em geral, é um território considerado seguro pelos judeus que aqui conseguem fruir a sua vida religiosa sem sentirem a pressão do antissemitismo, apesar do crescendo de algumas organizações que aproveitam o momento de crise para descriminar minorias com base na sua religião, raça, etnia, nacionalidade ou estatuto de migração».

«Muitas são as marcas no território da presença do povo judaico incluindo as toponímicas em localidades como Vale Judeu ou Sinagoga, sendo que existiram núcleos comunitários nas principais cidades do Algarve como Faro, Tavira, Silves e em dezenas de outros locais como em Lagos onde estão as inscrições hebraicas de Espiche do século VII a VIII».

E «também foi no Algarve, em Faro, que foi impresso o primeiro livro português, uma Tora (Pentateuco), por um judeu, Samuel Gacon, em 1487. Muitos destes vestígios perderam-se no terramoto de 1755 mas existem outras marcas importantes de períodos de grande prosperidade já no século XIX sendo visitável o cemitério Judaico de Faro dessa época e o seu pequeno núcleo museológico».

Além da Comunidade Judaica do Algarve, as comunidades judaicas já organizadas presentes no território português são as de Belmonte, Lisboa e Porto.