Portimonenses prestes a entrar em «Marafada Quarentena»

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Confinamento alterou a vida de todos. O Boa Esperança Atlético Clube Portimonense não foi exceção e teve de cancelar a nova revista à portuguesa que ia colocar em cena. Ainda assim, o coletivo não baixou os braços e aproveitou as dificuldades do quotidiano para criar a comédia «Marafada Quarentena», terreno pouco explorado no historial do grupo, segundo contam ao barlavento o encenador e ator Carlos Pacheco e a atriz Soraia Correia.

barlavento: Depois de largos meses a preparar a revista, com todo o trabalho e dinheiro gasto, ter de cancelar à última hora, sem saber quando poderiam colocá-la em cena, qual foi a sensação?
Carlos Pacheco: Primeiro, a tristeza, por ver o esforço de toda a equipa, de palco e não só, não poder ser apreciado, no dia 14 de março, porque fechámos o Boa Esperança, dois dias antes. Uma semana antes, estávamos a bater o pé e a dizer que íamos pôr o espetáculo em cena e, de repente, apercebemo-nos da gravidade da situação. E ainda bem, porque, um ou dois dias depois, foi decretado o estado de Emergência. Foi um sacrifício emocional muito grande para todos nós. No campo da produção, com todo o guarda-roupa e adereços prontos, foram 26 mil euros investidos, sem poder rentabilizá-los. Pensámos que seria um adiamento por 15 dias, e que iríamos apresentar o espetáculo em junho. Neste momento, a estreia está prevista para janeiro de 2021.

Mas não ficaram sossegados, pois não?
Ficámos confinados em casa, no primeiro mês, como todos os portugueses que não foram fazer passeios higiénicos. Surgiu a ideia de fazer qualquer coisa em prol da sociedade. Peguei na personagem do musical de «O Sonho do Ernesto» que começou a cantar os parabéns a quem fazia anos, baseado num modelo que já se fazia em Itália e em Espanha. Munimo-nos de todas as credenciais e autorizações e fomos celebrar aniversários, de uma forma gratuita. E isso foi o início desta nova comédia.

Porquê a apresentação no TEMPO e não na vossa plateia?
Tudo começou com um convite pessoal que nos foi feito pela nossa autarca Isilda Gomes, para que apresentássemos um espetáculo naquele equipamento, durante o mês de agosto, como reconhecimento e agradecimento do que tínhamos feito em prol de Portimão. Surgiu este trabalho, que tem contornos um bocadinho diferentes, pois estamos a viver tempos inéditos, mas que vai ser um belíssimo espetáculo. Cada sessão está limitada a 116 lugares, incluindo dois para cadeiras de rodas. Será apresentado com a máxima segurança. Nem as famílias vão ficar juntas. Será uma disposição em xadrez, cadeira sim, cadeira não. Os lugares serão higienizados e com coberturas descartáveis, além de uma série de regras de etiqueta social, de modo a que as pessoas se sintam seguras. Pensávamos que poderíamos ter 250 pessoas por sessão, mas metade foi autorizada. Estas práticas dão-nos a garantia de que ninguém lá vai apanhar Coronavírus, como muitos receiam. Tudo será feito com os protocolos da DGS e também nós, os atores, nos sentimos mais protegidos.

Como é fazer uma comédia, em vez de revista?
Soraia Correia: Como tenho um background em teatro fazer comédia é confortável para mim. Adaptar-me ao ritmo da revista foi mais complicado. Mas, depois entrar nesse registo, voltar ao que era é difícil também. O ritmo da revista obriga-nos a estar sempre concentrados. O ritmo da comédia obriga a outro tipo de exercício. Nem queiram saber o número de vezes que eu mudo de roupa, ao longo do espetáculo. Às vezes, penso que a peça de teatro está nos camarins e não propriamente no palco.

Para quem, como vocês, está habituado a um contacto íntimo com o público, como vai ser atuar para pessoas afastadas e com a cara coberta por máscaras, que escondem os sorrisos e as gargalhadas?
Carlos Pacheco: Estamos a aprender a lidar com tudo isto, que é novo para nós. Auguro que daqui por um ou dois anos, voltaremos a ser como éramos antes desta pandemia. Mas vamos aprender. Temos feito muitos ensaios, muito mais do que fazemos nas revista, para que possamos aprender a lidar com isso, a ler as reações nos olhos do público, porque nos vão faltar os risos abertos. Mas, além da aprendizagem, é a possibilidade de fazermos algo diferente. Temos feito alguns musicais, mas há já alguns anos que não entramos por este caminho. Mas é uma comédia tão ritmada que, quem for assistir, verá que na encenação há o pulso de alguém que faz teatro de revista. Não quero que o nosso público pense que é um espetáculo inferior. Muito pelo contrário.

Todos os anos apresentam novos artistas. Desta vez, quem são as novidades?
Temos dois elementos novos. O Afonso Silva, 11 anos, mas que parece que já tem 20 anos de experiência. Tem andado sempre na escola de teatro do Boa Esperança, já está habituado aos palcos, mesmo televisivos. Ganhou vários prémios na música, como o Chaminé de Ouro e vários outros no fado. Está a viver o seu grande sonho, que era um dia estar em palco comigo. A Estela Silva, que fez o casting no mesmo ano da Soraia. Ficou como minha assistente e agora tem a sua chance. Está em grande forma. O público vai adorá-la.

Mas consta que há uma terceira aquisição?
É verdade. A nossa presidente de câmara. Foi quem lançou este desafio e eu, numa brincadeira séria, fiz-lhe o convite: não quer também estar presente? Respondeu que sim, mas nunca pensámos que iria estar disposta a aparecer do modo como vai fazê- -lo em palco, embora eu soubesse que é uma pessoa sempre bem-disposta e com muito sentido de humor. Tem uma participação muito generosa para connosco e agora todos os media querem ver um ensaio geral. Mas só vão ver o que a personagem da Isilda Gomes vai fazer, a partir de 1 de agosto. Refiro que a autarca fá-lo por agradecimento pelo que fizemos no estado de emergência. É uma grande mulher e vai ser uma grande surpresa!

Família portuguesa, com certeza

A história passa-se na sala de uma família portuguesa um bocadinho desorganizada. O pai, gerente bancário, tem uma amante e está à beira do divórcio. A sogra não suporta o genro, sendo recíproco o sentimento. Acolhem também uma visita indesejada, por causa da pandemia, que lhes invade o apertado apartamento.

Segundo Carlos Pacheco, quem quer que vá assistir, irá rever-se um pouco naquelas personagens.

«Tive uma luz muito própria para conseguir escrever esta comédia. Deu-me muito trabalho, mas consegui, porque habitualmente escrevo e, passado algum tempo, penso que poderia ter feito diferente e melhor. Neste caso, não. Temos feito ensaios intensivos e, todos os dias, todos nos fartamos de rir. Penso que não conseguiria fazer melhor».

Os espetáculos são às quintas, sextas-ferias e sábados de agosto (12 espetáculos + estreia), o que significa apenas 1111 espetadores possíveis. Os bilhetes custam 10 euros e podem ser adquiridos na Worten, na FNAC, nas bilheteiras do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, no Pavilhão Arena ou pelos telefones 282 402 470, 282 402 475 ou 961 579 917.