Polo de Inovação de Tavira vai alavancar a Dieta Mediterrânica

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Polo de Inovação de Tavira, projeto apadrinhado pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, une mais de 20 entidades.

É um «projeto ambicioso» que promete aproveitar todo o potencial do Centro de Experimentação Agrária de Tavira (CEAT) e torná-lo no Centro Nacional da Dieta Mediterrânea.

Junta 23 parceiros que se comprometem a implementar atividades de investigação, inovação e formação, nas instalações daquele equipamento gerido pela Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve.

Os protocolos de colaboração foram assinados na quarta-feira, dia 24 de novembro, na presença da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.

«Estamos aqui na conjugação de um momento e de um local perfeito para um projeto desta natureza. Entendemos que só com uma parceria forte é possível abrir este centro à sociedade e retirar dele o máximo. Qual o melhor desígnio para o fazer? Apelando à Dieta Mediterrânica, que é um princípio, uma filosofia de vida que abarca várias dimensões, além da produção sustentável de alimentos», explicou o diretor regional Pedro Valadas Monteiro.

Abarca «a saúde, o bem-estar, a educação, a cultura, o património, as paisagens e os ecossistemas, e o turismo também, que é a principal atividade do Algarve. São essas dimensões múltiplas que tentámos encaixar no projeto», acrescentou, também ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

A ambição é que «este centro se torne um local privilegiado para o país, para estudarmos e investigarmos os vários domínios da Dieta Mediterrânica. Tudo começa nestes 30 hectares onde temos um património de germoplasma que, na prática, é a identidade rural do Algarve. Costumamos dizer que é uma verdadeira Arca de Noé agrícola. Não podemos esquecer que o perigo de extinção não está apenas no que é natural, mas também no que foi abandonado pelo homem porque o mercado deixou de pedir. Se não estiver preservado nalgum local, é património da humanidade que se perde», lembrou.

É o caso do Pêro de Monchique, que está agora a ser recuperado naquele concelho serrano, ou da casta negra-mole, outrora esquecida e agora recuperada com sucesso por vários vitivinicultores da região.

E para dar o exemplo do que pode vir a ser feito no futuro Polo de Inovação de Tavira, a DRAP Algarve vai coordenar um projeto de valorização de recursos genéticos tradicionais, novas culturas e gestão de água de rega em contexto de alterações climáticas. É uma iniciativa emblemática da Agenda de Inovação 2030 (Terra Futura), a iniciar no princípio de janeiro de 2022 e que terá término em setembro de 2025.

A iniciativa tem como objetivo melhorar a utilização dos recursos hídricos mais adaptados a um cenário de escassez de água, em espécies representativas da agricultura algarvia, como é o caso dos citrinos, dos frutos secos, e também de culturas emergentes. Será ainda implementado um campo de experimentação de pomar tradicional de sequeiro, composto por alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras e oliveiras, em modo de produção biológico e com diferentes dotações de rega.

Por fim, o projeto vai testar algumas espécies, leguminosas (como é o caso do feijão Cutelinho, que tem baixos consumos de água) e realizar ações de sensibilização e informação dirigidas a agricultores.

Os resultados serão valiosos para a definição das práticas e políticas a adotar na região durante os próximos anos. A iniciativa surge ainda alinhada tanto com o Plano Regional de Eficiência do Algarve, aprovado em 2020, como com o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve, de 2019.

Outro dos parceiros deste projeto é o ABC – Algarve Biomedical Center, que se propõe criar no Polo de Inovação de Tavira, o Campus Med Life, destinado à formação num estilo de vida saudável, complementada com o recurso a tecnologias de realidade virtual. Terá ainda circuitos para a prática do exercício físico ao ar livre, para ser utilizado por vários públicos, desde a comunidade escolar até à população mais envelhecida.

Associado ao Campus Med Life prevê-se ainda a criação de um Centro de Terapêuticas Digitais numa parceria entre o ABC e a Universidade Johns Hopkins, promovendo a manutenção física e cognitiva da população e a reabilitação pós-doença.

A cerimónia contou com a presença do, entre outros, secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho; da presidente da Câmara Municipal Tavira, Ana Paula Martins; do responsável da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Rogério Ferreira; do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, José Apolinário, do presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes, da diretora regional da Cultura Adriana Nogueira e do presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação.

Projeto «Semente»

No âmbito de uma das parcerias constituídas, foi também homologado pela ministra Maria do Céu Antunes, um protocolo celebrado entre o município de Tavira e a DRAP do Algarve.

Trata-se do projeto «Semente» que prevê a instalação de uma «Horta-mãe» demonstrativa e de formação prática no CEAT, e de uma horta comunitária na margem esquerda da cidade, onde será possível cirar 50 talhões (com 50 m²) para usufruto dos habitantes dos Bairro da Atalaia, Bairro Social José Joaquim Jara, Bairro da Horta do Carmo, Bairro Porta Nova e Bairro Bela Fria.

Os 50 interessados em participar terão ao dispor, além da formação técnica, sistemas de rega, alfaias, armazém e uma estufa de plantas. A coordenação estará a cargo da Associação In Loco.

Museu do Mundo Rural

Outra das iniciativas que tem como parceiro a autarquia de Tavira, é a instalação do Museu do Mundo Rural do Algarve, no antigo edifício do Posto Agrário, algo idealizado desde há muito tempo e que se pretende agora cumprir, bem como a instalação do Centro de Ciência Viva – Quinta da Dieta Mediterrânica, em estreita colaboração com a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica.

Plano Nacional abraça a Dieta Mediterrânica

Maria do Céu Antunes aproveitou ainda a viagem a Tavira para apresentar o Plano Nacional para a Alimentação Equilibrada e Sustentável (PNAES). O documento nasce no âmbito da Agenda de Inovação «Terra Futura» e responde à promoção da Dieta Mediterrânica no país, tendo ainda em consideração a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (ESANP).

«Somos aquilo que comemos. As nossas decisões, enquanto consumidores, condicionam a nossa saúde, mas também a saúde do ambiente e da economia do nosso país. Convictos do quão capaz é o sector agroalimentar nacional de responder e superar expectativas, com produtos seguros e de excelência, vamos também com este plano, unir esforços e dialogar com o tecido empresarial e científico para a sua implementação», referiu a ministra da Agricultura.

A iniciativa conta com dotação orçamental de 5 milhões de euros. Tem como objetivo dotar os territórios de equipas técnicas capazes de implementar ações de sensibilização para a adoção de uma alimentação saudável, económica e amiga do ambiente.

Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, elogiou o plano. «Hoje o debate sobre a alimentação que se quer saudável e justa para todos tem ganho uma crescente relevância e constitui um dos principais desafios da humanidade para as próximas décadas. O modo como devemos assegurar os recursos e os desafios das alterações climáticas não é causa pequena», disse.

Face à rápida propagação da pandemia de COVID-19, «houve consequências que levaram ao aumento da insegurança alimentar». Citando dados da DGS, «um em cada três portugueses no segundo confinamento teve dificuldades no acesso a uma alimentação saudável e adequada».

O PNAES baseia-se em quatro eixos: Consumo, Produção, Dieta Mediterrânica e Educação e Literacia Alimentar.