PJ trava rede ibérica fornecedora de cocaína para a Europa

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Polícia Judiciária (PJ) investigou durante três anos uma rede ibérica que se dedicava à introdução de cocaína na Europa. Diligências da «Operação Cristal» envolveram autoridades de Espanha.

A Polícia Judiciária (PJ), através do Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Portimão e da Diretoria do Sul, com o apoio do DIC dos Açores, da Marinha e da Força Aérea Portuguesa, desencadeou, nos últimos dias, uma operação de combate ao tráfico internacional de estupefacientes por via marítima, designada por «Operação Cristal».

Em conferência de imprensa, na segunda-feira, dia 26 de junho, Fernando Jordão, responsável pela Diretoria do Sul (Baixo Alentejo e Algarve) da PJ explicou aos jornalistas que esta intervenção operacional resultou de uma «complexa investigação», que decorreu nos últimos três anos, com o objetivo de desmantelar uma organização criminosa internacional, com atuação transcontinental, dedicada à introdução de grandes quantidades de cocaína no continente europeu e que utilizava Portugal e Espanha como plataforma de entrada no mercado.

Devido à natureza e relevância da situação, foi criada uma equipa de investigação conjunta, entre a PJ e a Brigada de Investigação do Crime Organizado do Corpo Nacional de Polícia, ao abrigo do Eurojust, no contexto da cooperação judiciária e policial, com as autoridades de Espanha e a Europol.

Esta equipa conjunta contou também com a colaboração do Maritime Analisys and Operations Centre – Narcotics (MAOC-N).

A «Operação Cristal», apoiada pela Força Aérea Portuguesa e pela Marinha , através de um dos seus navios, permitiu localizar e interceptar em alto mar, a cerca de 200 milhas (cerca de 316 quilómetros) a norte do grupo ocidental das Ilhas do Açores, um veleiro, suspeito de transportar de grande quantidade de droga.

A embarcação de recreio com cerca de 14 metros, fazia a travessia do Atlântico, entre a América do Sul e a Europa, tripulado por dois homens, um russo com passaporte ucraniano e um alemão.

Traficantes nem se deram ao trabalho de tentar esconder a droga no veleiro.

O barco foi interceptado pelos Fuzileiros do Destacamento de Ações Especiais da Marinha, tendo os tripulantes sido detidos na posse de cerca de mil (1000) quilos de cocaína.

A Marinha recolheu a droga, que se encontrava na cabine do veleiro, mas devido às más condições de segurança e navegabilidade da embarcação, possivelmente devido a ter apanhado mau tempo durante a viagem de contrabando, procedeu-se ao reboque do mesmo. Durante a viagem para Ponta Delgada, o veleiro, já vazio, viria a afundar-se.

«Foi o primeiro transporte desta organização desde que se fixou em Portugal», disse o diretor do DIC de Portimão, Alexandre Branco.

Em paralelo, foram efetuadas buscas domiciliárias no Algarve e em Lisboa, sendo detidos seis suspeitos, cinco dos quais no cumprimento de mandados de detenção emitidos pelo tribunal de Évora, e um identificado como sendo o cabecilha desta rede de traficantes, um homem «maduro já bem conhecido das autoridades espanholas» por se dedicar ao narcotráfico.

Fernando Jordão e Alexandre Branco.

Das ações de busca resultou também a apreensão de uma embarcação de recreio no Algarve, que servia de apoio ao transbordo da droga, três viaturas, diverso equipamento sofisticado de comunicações, documentação relevante para a investigação, uma significativa quantidade em numerário, várias wallets de criptomoeda, joalharia e relojoaria de «elevado valor», segundo a PJ.

Os suspeitos, de nacionalidades europeias e sul-americanas, com antecedentes policiais e judiciais por crimes de tráfico de estupefacientes, branqueamento e associação criminosa, foram presentes à justiça. Em Espanha continuam as diligências para desmantelar a rede.

As autoridades não revelaram nomes nem a idade dos detidos, mas avançaram que o líder era um espanhol que se mudou há algum tempo de Espanha para Portugal e vivia entre Lisboa e o Algarve, acabando por ser detido na capital portuguesa.

O inspetor da Brigada de Investigação do Crime Organizado da Polícia Espanhola, que não disse o apelido por razões de segurança, afirmou que o cabecilha dos narcotraficantes é «muito conhecido e com antecedentes» no país vizinho.

O inquérito tem sido titulado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Ministério Público.

De acordo com fonte judicial, dos seis arguidos ouvidos hoje no Tribunal Judicial da Comarca de Évora, a prisão preventiva foi decretada para os cinco homens do bando e a obrigatoriedade de apresentações periódicas e proibição de se ausentar do país à única mulher deste grupo de detidos no âmbito da «Operação Cristal».

Passageiros clandestinos detidos ao largo do Algarve

Um navio da Marinha Portuguesa e o Grupo de Ações Táticas da Polícia Marítima, da Autoridade Marítima Nacional, em articulação com a Unidade Nacional Contra-Terrorismo da Polícia Judiciária (PJ), lançaram uma operação de abordagem ao navio mercante «Vestwind», com bandeira portuguesa, na madrugada de quinta-feira, dia 22 de junho, ao largo da costa algarvia, tendo procedido à detenção de dois indivíduos clandestinos a bordo.

A ação conjunta foi desencadeada na sequência de um pedido de socorro do capitão do navio, o qual, que em conjunto com a restante tripulação, estavam a ser vítimas de ameaças graves contra as suas vidas e contra a segurança da embarcação. Os detidos, indocumentados, respetivamente de 23 e 24 anos, entraram no navio no dia 8 de junho, no Porto de Izmir, na Turquia e, desde que foram detetados, demonstraram uma atitude não colaborante com a autoridade do navio, passando a assumir comportamentos ameaçadores.

No percurso marítimo entre a Turquia e as águas territoriais portuguesas, o comandante solicitou sucessivos pedidos de apoio e assistência, para proceder ao desembarque de ambos os clandestinos, diligências que, apesar de insistentes, não obtiveram acolhimento, de diferentes países.

A ação conjunta e coordenada com a Autoridade Marítima Nacional permitiu que a PJ realizasse um vasto conjunto de atos de recolha de prova na embarcação, fundamentando a indicação da prática de crimes de atentado à segurança de transporte por água, introdução ilegal em lugar vedado ao público, ameaça agravada e permanência ilegal, em território nacional.

Os detidos foram presentes a primeiro interrogatório judicial para a aplicação de medidas de coação, tidas por conveniente, junto do Tribunal de Instrução Criminal de Faro.