Entre os grandes mestres entalhadores portugueses da época barroca sobressai o nome do algarvio Manuel Martins. Antes do final deste ano, o Museu Municipal de Faro dedica-lhe uma exposição inédita.
Mesmo fora da Igreja do Carmo, São José, pai de Jesus, impressiona pelo detalhe, enquanto recebe os cuidados de Maria José Gonçalves, a pioneira do Serviço de Conservação e Restauro do Museu Municipal de Faro.
A equipa está a preparar uma exposição inédita sobre Manuel Martins, artista que dominou o panorama artístico do Algarve na primeira metade do século XVIII.

«Natural de Faro, foi um homem que deixou um conjunto de obras fantásticas de escultura religiosa. Destacou-se pela talha e também pela imaginária», conta Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro.
«Vamos mostrar imagens de várias igrejas da cidade. Diria que vai ser um momento marcante porque nunca foi feita qualquer exposição sobre esta figura, ainda que tenha sido já sobejamente estudada», sobretudo, pelo historiador de arte Francisco Lameira, que será, aliás, o comissário da mostra.
Apesar de não se comprometer com prazos, o diretor aponta para o mês de novembro. E explica porquê: «estamos a fazer todo um trabalho importante que está a ocupar grande parte da nossa equipa de conservação e restauro. A grande maioria das imagens que foram selecionadas e que nos chegaram às mãos estavam em mau estado. Já há largos meses que a equipa está quase exclusivamente dedicada» a cerca de uma dezena de imagens.

«Queremos mostrar o esplendor e a mestria de Manuel Martins», sublinha. E porquê apenas peças do património de Faro?
«Bem, na verdade, há imagens espalhadas por todo o Algarve cuja autoria lhe está atribuída. Mas não se sabe exatamente. No entanto, aqui em Faro há um núcleo que, até do ponto de vista documental, temos a certeza que são dele. Estamos a falar de imagens da Igreja do Carmo, onde trabalhou» a talha e a imaginária.
«Algumas peças podem até ter sido alvo de restauros anteriores que não ficaram bem executados e que temos de ter em atenção» para reverter ao estado original.

«Depois há outro tópico interessante. Dentro dessa exposição, vamos destacar um projeto que o museu tem vindo a gerir e a desenvolver que é o estudo radiológico dos Cristos Mortos», em colaboração com uma clínica em Tavira e o médico radiologista Jorge Justo Pereira. Uma imagem da Igreja Matriz de Santa Bárbara de Nexe dará o mote.
«Este projeto tem por objetivo de perceber o estado de conservação e também a estrutura. Por exemplo, para se perceber os materiais de que são feitas. Algumas sabe-se através da radiografia que tiveram acrescentos algures no tempo. Um conjunto de informações que não são visíveis a olho nu. Para se ter uma ideia, a imagem que se pensava ser a mais antiga de Tavira (Santa Ana) estava datada do século XVI. Este estudo ajudar a datar com precisão e afinal era mais antiga, do século XV».

O projeto prevê radiografar cerca de 40 peças e está perto do final. «Contamos com o apoio da Dioceses e do Bispo e estamos nisto há cerca de quatro anos».
Por outro lado, «queremos abordar a questão do património imaterial, no que toca à importância das cerimónias religiosas em todo o Algarve», avançou Marco Lopes ao «barlavento».
Em termos de visitantes, «temos vindo a crescer. Ainda não temos os dados definitivos, mas já deu para perceber que já ultrapassamos o número do ano passado».

Já no que toca à calendarização expositiva para 2020, «está pensada uma colaboração com a coleção de fotografia do Novo Banco, que é uma das mais prestigiadas do país e até em termos internacionais».
Também será trazida a público a obra de uma figura da terra, Joaquim António Viegas. «Foi um artista plástico que fez carreira na cenografia, nos teatros de Lisboa. Vamos mostrar uma coleção de desenhos, nus, trabalhos académicos».
A ideia «é fazer um protocolo com a Faculdade de Belas Artes que estimule o estudo das nossas coleções e que isso possa resultar em exposições. O que já acontece com a Universidade do Algarve, que está a estudar materiais arqueológicos do período romano, em reserva, materiais que foram descobertos perto do local onde se encontrou o mosaico do Deus Oceano», conclui o diretor.