Médicos querem que tutela acione task force para doentes não COVID

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O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, disse hoje que no pós-pandemia um dos «tsunamis» será o da saúde e sugeriu à tutela que ative «rapidamente» uma task force dedicada a doentes não COVID-19.

«É absolutamente essencial [pôr em prática o Plano de contingência para doentes não COVID]. Neste momento é uma das medidas mais importantes. A sugestão que deixo à ministra da Saúde é que rapidamente ative a task force dessa área se é que ela existe», disse o bastonário.

Miguel Guimarães defendeu que «é preciso que os médicos de família tenham mais tempo para ser os seus doentes de sempre», considerando decisivo «libertá-los de algumas tarefas» para acelerar a resposta a doentes não COVID.

«Quando esta situação da COVID-19 terminar vamos ter dois tsunamis. O da economia que tem impactos sociais enormes. E o tsunami da saúde. A saúde vai ter muito impacto nos doentes não COVID-19. Temos já de começar a atuar no terreno nesta matéria. Acho que nunca existiu um plano de recuperação dos doentes não COVID pelo menos que fosse público e que fosse generoso e com eficácia», disse Miguel Guimarães.

O bastonário da OM falava aos jornalistas no Porto, ao lado do presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), Fernando Araújo, que também questionado sobre esta matéria, disse que «os doentes não COVID são um enorme motivo de preocupação».

«Atualmente um e cada três doentes não está a chegar aos hospitais e se a incidência das patologias não reduziu, significa que vamos tê-los mais tarde em piores condições clínicas, mais graves e isso é algo que temos de impedir e reverter. E oncologia temos assistido a doentes que recorrem ao hospital mais tardiamente e com condições clínicas mais complexas e mais difíceis de tratar», disse Fernando Araújo.

O responsável do CHUSJ defendeu que «deve existir um plano a nível nacional que consiga inverter esta realidade», falando em «impacto muito relevante a médio e longo prazo».

«Alguns especialistas a nível nacional e europeu apontam que a esperança média de vida pode ter um retrocesso pela primeira vez em muitos anos.

É um motivo de preocupação e tentamos que estes doentes não tenham a sua resposta adiada ou suspensa», disse o responsável por um hospital que acolhe hoje 120 doentes COVID-19, dos quais mais de 50 em unidade de cuidados intensivos.