Depois de ter enfrentado um mandato fértil em acontecimentos desfavoráveis, João Fernandes deixa o Turismo do Algarve.
Em declarações aos jornalistas na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, na sexta-feira, dia 3 de março, João Fernandes anunciou que vai deixar a presidência do Turismo do Algarve e não será candidato às próximas eleições, em julho.
«Como sabem, realizou-se uma assembleia da Região de Turismo do Algarve (RTA), em que o ponto único era a questão da interpretação da lei orgânica das entidades regionais do turismo (Lei 33/2013), que é dúbia em relação à forma de aplicação de mandatos. Havendo uma dúvida consistente, que me limitaria essa possibilidade, a minha opção é preservar o meu bom nome e o da instituição e ser o mais transparente possível. Portanto, informei que não me recandidataria por causa dessa condição. Informei-os também do que fiz previamente para esclarecer essa matéria. Dirigi um pedido à Procuradoria Geral da República. Dirigimo-nos também ao novo secretário de Estado, Nuno Fazenda, com essa mesma questão e aquilo que nos foi dito é que, sendo uma matéria dúbia, deve ser debelada no seio da própria organização. Quis pugnar pela transparência e pelo bom nome da RTA. Em sede de assembleia, fizeram um voto de louvor à presidência e à direção executiva, porque isto é um trabalho coletivo, de uma equipa vasta de trabalhadores».
Assim, e «aproximando-se um período de eleições, decidi dar tempo também à região para se escolher o melhor, porque o turismo merece. Espero que se escolham os melhores e que continuemos a merecer as posições que hoje conquistámos. Hoje, o presidente da RTA também é o presidente da Associação de Turismo do Algarve (ATA) e por essa condição é vice-presidente da Confederação do Turismo de Portugal. Portanto, há muita coisa que é importante preservar e não devemos estar presos por nomes de pessoas», considerou.
João Fernandes fez um balanço positivo do tempo em que ocupou o cargo. «Sim, em nome pessoal foi uma honra representar todos aqueles que no Algarve trabalham para o turismo. Falo mesmo de todos, direta ou indiretamente, num sector que é considerado a indústria da paz. Isto não só porque concorre na ausência do conflito, mas porque ultrapassa preconceitos quando os outros criam dificuldades na diferença. Nós olhamos para alguém que tem uma cor diferente, uma língua diferente, uma cultura diferente, uma religião diferente, uma orientação sexual diferente e o nosso trabalho é que se sinta bem conosco. Portanto, para mim, é uma enorme honra ter trabalhado neste sector. O saldo é muito positivo».
E na hora da saída recorda que «o mandato foi muito atribulado. Do Brexit, à falência da Monarch, que representava 10 por cento dos passageiros para o Algarve, até ao anticiclone dos Açores que nos deu mau tempo num verão. Tivemos a falência do maior operador e mais antigo do mundo, a Thomas Cook. Tivemos a pandemia de COVID-19, a seguir uma guerra na Europa e agora a inflação galopante. Não há nada que não tenha acontecido. E continuamos a crescer nos desígnios que queremos: mais no interior e mais na época baixa. Crescer mais em valor e de forma mais sustentável».
Fernandes destacou também as lições aprendidas. «É avassalador ver a dinâmica do turismo de natureza na região e a capacidade de internacionalização. A dinâmica daquilo que tínhamos, muitas vezes, vergonha em assumir, e que o 365 Algarve, no qual tenho muito orgulho, claramente destacou: a nossa autenticidade, que é um ativo e não um motivo de retração. Destacou a nossa identidade, aquilo que temos de diferente para partilhar com os outros. Isso é que nos traz mais valor. De olhar para os residentes como o fim último da nossa atividade. O turismo não é um fim em si mesmo. O turismo tem de transmitir para o território e para as pessoas que o habitam hoje e que vão habitar amanhã, as melhores condições. Acho que concorremos para aquele desígnio que António Guterres desafiou o turismo a perseguir: sermos uma força para o bem. Revejo-me nessa ambição e foi um orgulho».
O mandato termina em julho, mês em que serão convocadas eleições. «Espero que quem ocupe o cargo, que o faça com todo o sucesso, que será o sucesso para todos. Se a região me chamar para o que quer que seja, terá o meu contributo», disse.
Em relação a possíveis candidatos, «certamente haverá e espero que haja, interessados. O turismo produz cada vez mais gente qualificada. O estudo que fizemos demonstra que já 15 por cento das pessoas que trabalham em turismo são licenciadas. E temos uma grande vantagem, aqueles que muitas vezes não falamos, que trabalham nas instituições, são muito bons e deram-me muito».
«A estratégia de diversificar a oferta, diversificar mercados, enriquecer a visita do turista qualificando a oferta, apostar na sustentabilidade e na transição digital dá resultados concretos. Foi isso que quis mostrar do ponto de vista da performance turística, do ponto de vista dos indicadores ambientais, do ponto de vista da sustentabilidade social da região. Tenho muito orgulho que o sector tenha conseguido estes resultados. A estratégia tem de se adaptar a cada ano, a cada oportunidade e a cada desafio. Se há coisa que o turismo demonstrou é vai reagir e vai reagir bem», mesmo em tempos complicados. «Não podemos perder é o fio condutor. Estes são os desígnios para o Algarve e vão ser sempre», concluiu.
«Estamos confiantes, mas cautelosos» em relação a 2023
A reta final de João Fernandes à frente do Turismo do Algarve termina com expetativas de um bom ano para o sector. «São francamente favoráveis. Apresentei os resultados que já temos de passageiros, que são um número recorde em janeiro e fevereiro. Janeiro é o pico da época baixa, é o mês mais baixo, mas tivemos grandes resultados em vários segmentos de atividade, desde as empresas de rent a car, ao golfe, alojamento e animação. Todos me relatam que têm reservas em carteira superiores às que tinham neste mesmo período em 2019, o que é fabuloso».
Ouvido pelos jornalistas na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, o presidente revelou que há «um equilíbrio entre reservas diretas e as de intermediação, com as agências de viagens também a terem bons resultados». Durante a pandemia, as reservas foram mais diretas, «mas isso confere uma imprevisibilidade a esse indicador. As pessoas reservavam, mas não sabíamos se, de facto, viriam. Hoje em dia, a percentagem de reservas não reembolsáveis, pré-pagas, está ao nível de 2019, o que é muitíssimo bom».
«Estamos confiantes, mas cautelosos. Porquê? A tensão social na Europa está cada vez maior e vemos greves repentinas. Se isso acontece num mercado estratégico, num aeroporto ou período estratégico, faz mossa. Pode brigar alguns picos de procura. Estamos otimistas porque temos razões para isso, mas também estamos muito atentos às realidades internacionais. Por exemplo, estamos a ter uma vantagem competitiva cambial para mercados de outbound e se em 2022 os EUA dispararam, e continuam de forma avassaladora a crescer, queremos recuperar o crescimento que estávamos a ter, superior a 300 por cento, nos mercados brasileiros, canadianos, italianos, belgas, suíços e luxemburgueses», referiu Fernandes.
No período de 2014 a 2019, «crescemos 73 por cento nos mercados fora do TOP 5. Temos de continuar a perseguir esse caminho», apontou ainda.
Números mostram realidade do sector
Depois de dois anos de pandemia, 2022 seria o ano da retoma. «Conseguimos recuperar fortemente, sobretudo no mercado interno, com níveis que só esperávamos atingir em 2024, que se concretizaram em 2023. O mercado interno nunca tinha registado tantos hóspedes como em 2022, acima de 2019. Nas dormidas, de igual forma é expressa uma recuperação interessante do mercado externo (menos 6,2 por cento que 2019, no total)», revelou João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, na sexta-feira, dia 3 de março.
Em relação ao número de passageiros no Aeroporto de Faro (menos nove por cento que 2019), houve «uma recuperação muito marcada pelo principal mercado emissor, Reino Unido (quota de 46 por cento). Relembro que os primeiros três meses de 2022 foram muito marcados pela vaga pandémica, apesar disso, o número de voltas de golfe, no total, ultrapassou os registos máximos de 2019 (com 1376301 voltas, mais 1,9 por cento). Em dois anos (2020 e 2021), «tivemos o equivalente a um ano de receitas (2019)».
No entanto, «chegámos a 2022 e crescemos em valor. Foi muito importante para as empresas conseguirem acompanhar as exigências de um período de carência. Felizmente, foi-nos provado que nos destacámos a nível nacional e internacional, com um aumento de 15,6 por cento de proveitos globais no alojamento turístico, um recorde absoluto (acima de 1,4 mil milhões)», disse João Fernandes.