A Mata do Liceu precisou de 18 meses de obras para ser devolvida aos farenses, num investimento autárquico que ascendeu os 1,5 milhões de euros.
Dezenas de crianças a brincar, jovens a conviver e seniores em aulas desportivas já se puderam observar na manhã desta sexta-feira, 24 de março, dia em que a Câmara Municipal de Faro inaugurou a Mata do Liceu de Faro, após uma requalificação profunda.
O objetivo foi o de requalificar, modernizar e recuperar a plantação de novas árvores e arbustos, mas também o de introduzir novos espaços lúdicos, desportivos e até culturais, apelativos para todas as faixas etárias.
Rogério Bacalhau, no uso da palavra, começou por recordar que a requalificação se trata de um projeto «que está a ser desenvolvido há cinco anos. Hoje, temos o culminar desse trabalho que espero que venha dar resposta às necessidades das pessoas que usufruem dele. A partir de hoje, devolve-se mais um espaço a todos nós, com melhores condições de fruição, mas, acima de tudo, com melhores condições de habitabilidade para os seres vivos que aqui estão. Com esta intervenção, temos a garantia que a Mata do Liceu vai continuar a estar aqui, a florescer e a ter melhor cobertura vegetal nas próximas décadas».
«Se não a tivéssemos feito, seria exatamente o contrário. Estou convencido, tal como aconteceu com a Alameda, que foi apropriada de imediato pela população, que neste espaço vai acontecer a mesma coisa. Esse foi o nosso objetivo: criar condições de conforto para os nossos munícipes e para quem nos visita», garantiu o autarca ao microfone.
A obra estava prevista ter a duração de menos de um ano e ter o custo de menos de 1 milhão de euros, mas «a falta de mão de obra, material e equipamentos», e a subida dos preços, apontou o presidente, fizeram com que os trabalhos se estendessem a ano e meio e ultrapassassem os 1,5 milhões de euros.
Mas não só, também por se ter tratado de uma «obra muito sensível, de grande dimensão e que não poderia ferir os seres vivos» que ali existem. Ainda assim, foram encontradas centenas de árvores já mortas, onde foi necessário proceder à sua substituição, o que se traduziu em cerca de 280 novos exemplares plantados, o mais diversificados possíveis.
«Algumas autóctones e outras de crescimento mais rápido, mas com elevada resistência a pragas. Houve uma forte aposta nas folhosas de modo a incrementar a deposição de matéria orgânica no solo», explicitou a autarquia. «Evidente que há uma perda, mas acho que a grande mais-valia desta intervenção é o facto de estarmos a defender e a dar vida à Mata do Liceu», assumiu Rogério Bacalhau.
Por sua vez, o arquiteto José Brito da LOff landscape office, empresa responsável pelo projeto, explicou as peculiaridades do local. «Isto era um sítio ermo, os solos eram esqueléticos, maus e não havia bacias de receção de água. As árvores que cá estavam começaram a morrer devido à sobrelotação que permitia que as pragas se propagassem rapidamente. Em termos de diversidade era monótona, com um solo muito limitante. O que procurámos foi começar por resolver esses problemas fundamentais. Criámos um solo com elementos nutritivos para as espécies se poderem alimentar. Depois houve uma fertilização e enriquecimento do solo. Penso que poderá ser o segredo para termos uma Mata muito mais saudável e com menos doenças», disse.
Além disso, todas as árvores que se mantiveram, inclusive uma amendoeira original que remonta a 1930, foram alvo de limpeza e poda, mantendo a sua copa natural.
Por outro lado, houve ainda um trabalho exaustivo relacionado com a captação de água. «Se não temos muita, temos de reter a que podemos. Há aqui um trabalho de depressões, de várias várias lagoas e pequenas bacias de receção, mais de 10, seguramente. Ou seja, quando chover, esta água que, antigamente, escorria pelas ruas abaixo [principalmente na Rua de Berlim], agora enche as bacias. Após um ou dois dias, voltam a secar depois de a água se ir infiltrando. Este papel de reter a água foi uma das grandes preocupações. Assim, garantimos uma reserva que nos permite alguma garantia para encarar o verão com mais alegria para estas árvores», referiu o arquiteto.
Foram todos estes motivos que fizeram atrasar a obra, algo que mereceu um pedido de desculpas público do autarca.
«Peço desculpa pelo tempo que levou. Estivemos mais sete meses do que aquilo que era expectável, mas que todos compreenderão que foram mesmo necessários. Não houve aqui descuidos do empreiteiro, que sofreu muito para executar esta obra, nem dos serviços do município, nem do projetista. Foram as contingências que tivemos de superar».
Na nova Mata do Liceu são vários os diferentes espaços que agora se podem encontrar. Além de mesas de refeição, espaços de relva, campo de basquetebol, aparelhos de exercício físico, há ainda parques infantis para crianças e um novo anfiteatro em substituição do anterior.
«O antigo era mais pequeno, mas mantinha um relevo de corte. Este é um espaço apropriado a eventos que podem ser desportivos ou de música, como concertos de jazz, ou simplesmente de contemplação», afirmou o arquiteto.
Também sobre o espaço infantil criado, sobretudo, com recurso a cordas, o responsável da Landscape justificou que não se trata de uma parque usual. «Não é um parque infantil clássico, mas sim de interpretação. Aqui, a criança gere a sua imaginação de acordo com a sua capacidade motriz. Isso é muito importante para os miúdos poderem brincar a pensar no que estão a fazer, uma vez que aqui usam a mente e as mãos», acrescentou.
E houve também preocupações no design de cada zona e na sua dimensão.
«Os caminhos são mais amplos e atrativos. O principal tem um quilómetro e há ainda um secundário, semelhante a uma pista de corta-mato, destinado à prática de exercício físico. Esta valência dupla de todos os espaços foi um dos objetivos para que a pessoa possa escolher o que quer fazer quando aqui chega. A Mata está muito adaptada à teoria de trazer um brinquedo de casa e brincar ao ar livre, porque quase toda ela se trata de um parque infantil. Tentámos criar espaços para todos», assegurou o arquiteto Brito.
Além disso, «há aqui também uma relação muito importante entre a função, o desenho conceptual do espaço e as condicionantes biofísicas do mesmo. Isso é importante, porque não valia a pena fazer um projeto que não respeitasse este suporte biofísico», concluiu
Já para Rogério Bacalhau, o resultado final: «é uma mais-valia e ficou muito agradável», admitiu aos jornalistas. «Usufruam do espaço», pediu ainda.
Por fim, tanto o autarca como o arquiteto quiseram deixar um recado à comunidade. «Gostava de pedir que zelassem pelo espaço. Está muito bom, mas é preciso ter cuidado, é preciso não grafitar e é preciso tratar bem aquilo que é nosso. Se tratarmos bem aquilo que é nosso, vamos usufruir. Se tratarmos mal, vamos ter o reverso da medalha», alertou Bacalhau.
A partir de amanhã, a manutenção da Mata do Liceu de Faro fica à responsabilidade da União de Freguesias de Faro, representada na inauguração pelo presidente Bruno Lage.