O balanço foi feito pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que convocou a última greve regional de dois dias, a 30 e 31 de agosto.
Após dois dias de greve nas Administrações Regionais de Saúde (ARS) do Alentejo, Algarve e Açores, convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que decorreu nos dias 30 e 31 de agosto, o balanço é de uma adesão média superior a 80 por cento.
«Os cuidados hospitalares e de saúde primários, contaram com largas dezenas de milhar de consultas e centenas de cirurgias não efetuadas», aponta o SIM.
«Aos médicos que, sindicalizados ou não, de modo coerente com a sua revolta o demonstraram no terreno, o nosso reconhecimento. Destaque também para o elevado sentido deontológico e comportamento irrepreensível demonstrado no cumprimento dos serviços mínimos», adiantam em comunicado de imprensa.
Outro dos aspetos a realçar, de acordo com o SIM, foram «as palavras e atitudes de compreensão recebidas dos nossos doentes e ao apoio de personalidades políticas e partidárias de todos os quadrantes».
Depois de ficarem a saber pela comunicação social que será apresentada na reunião negocial de dia 11 de setembro a proposta final do governo sobre as matérias em discussão, o Sindicato diz «lamentar» essa situação.
Isto porque, em cima da mesa vai estar a revisão do edifício legislativo das USF e da Dedicação Plena, mas «ficam de fora os outros pontos acordados no protocolo firmado com o Ministério da Saúde, há 15 meses», tais como a revisão da grelha salarial, as normas de organização e disciplina do trabalho médico e o das equipas de urgência.
Estes pontos «foram alvo de propostas formais, atempadas e estruturadas» presentes pelo SIM.
«Pressionados pela crescente percentagem de utentes sem médico de família e encerramento em catadupa de serviços de urgência pela falta de recursos médicos de várias especialidades, com uma novel e exaltada DE do SNS de cuja ação se vê muito poucos resultados práticos, recupera em desespero a miragem da vinda de médicos de um país que faz como grande fonte de receita a exportação de profissionais formados em instituições de ensino de Medicina», refere o mesmo documento.
Segundo o SIM, a situação no Alentejo e Algarve «é deveras preocupante». E justificam: «faltam mais de 300 especialistas em Medicina Geral e Familiar para cumprir o objetivo de assegurar médico de família» para todos.

Além disso, «a carência de médicos especialistas hospitalares torna cada vez mais frequente o recurso a contratos de prestação de serviço para assegurar os cuidados hospitalares em especialidades diversas como a Medicina Interna, Ortopedia, Cirurgia, Pediatria, Cardiologia, Imagiologia e Gastrenterologia».
Para o Sindicato, «não é possível exigir mais, sendo às dezenas de milhar as horas extra que estes médicos se sacrificam a fazer para os serviços não colapsarem. As escalas dos serviços de urgência são asseguradas em mais de 70 por cento por prestadores, sendo incompreensível como o Estado despende mais de 760 milhões de euros nessas prestações de serviços», dizem.
«Sob a roupagem da auscultação, diálogo e negociação, o governo manifesta com as suas propostas um notório desrespeito pelos médicos», na opinião dos sindicalistas.
E vão mais longe. «Propor um aumento de 1,6 por cento com uma inflação de 7,8 por cento em 2022 a que se soma a perda de poder de compra de 20 por cento. nos 10 anos anteriores, com uma grelha salarial que data em parte de 1999 e congelada em 2005, paradoxalmente revista em 2012 nos tempos da Troika, respaldados com um aumento de 11 mil milhões de euros em receitas fiscais em 2022, o que é senão isso?», questionam.
«Rever uma grelha salarial é remunerar melhor sem aumentar a carga de trabalho nem tentar abolir mais valias laborais que os trabalhadores médicos obtiveram pela negociação coletiva e acordos coletivos de trabalho livremente assinados, curiosamente com um governo do Partido Socialista (PS). Falamos por exemplo de descansos compensatórios e de limites ao trabalho suplementar essenciais a segurança de médicos e doentes», diz o comunicado dos médicos.
Por isto tudo, o SIM, «não fechando a porta ao processo negocial, como é seu timbre», afirma continuar com a sucessão de greves regionais, estando a próxima marcada para a ARS Norte nos dias 6 e 7 de setembro.
«Continuamos fiéis à nossa palavra de ordem: pelo SNS, pela saúde dos portugueses», conclui a nota.