O chamado Greenwashing, ou Banho Verde, é mais ou menos o equivalente a pintar uma casa de fresco, esconder as suas humidades e infiltrações e apresentá-la como nova. Mudou-se a aparência, ficou mais apelativa e sexy, mas na prática o imóvel continua a deteriorar-se por debaixo de uma tinta nova.
Do ponto de vista do Ambiente, o conceito pode aplicar-se a empresas, governos ou pessoas, e está ao alcance de uma boa estratégia de comunicação, de publicidade ou marketing.
Na verdade, todos querem apanhar o comboio verde, o movimento que agrega cada vez mais cidadãos informados – e inconformados – que apelam à necessidade de fazer diferente, mudar hábitos, formas de ser e de estar, para que possamos respirar com um pouco mais de alívio perante a pressão sobre a nossa sobrevivência e dos ecossistemas.
Duas faces indissociáveis da mesma moeda.
Poderia aqui falar de mil e uma coisas: do desmatamento sem tréguas da Amazónia, e grande parte das florestas tropicais do Planeta; da sexta extinção em massa de seres vivos na terra, em que a cada hora extinguem-se três espécies de animais ou vegetais, ou ainda de uma Austrália com ondas de calor nunca antes vistas.
Os fogos, que mataram pessoas e dizimaram mil milhões de animais selvagens desencadeados pela subida das temperaturas médias e pela diminuição drástica da precipitação e seca.
Mas na verdade não precisamos ir para o outro lado do Planeta para nos sentirmos tocados pelas mudanças no clima.
Nesta semana ficamos a saber que de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em dados divulgados pela Pordata, o Algarve apresentou uma queda de 43 por cento na precipitação entre a década de 1970 e a de 2010. Mais um dado importante para o debate sobre o futuro hídrico da região.
A mesma semana em que a Universidade do Algarve (UAlg) recebeu do mundo mais de duas centenas de cientistas, especialistas em alterações climáticas, de um dos três grupos de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).
E em que a UAlg apadrinhou a conferência sobre o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), com o objetivo de abordar opções estratégicas e medidas de adaptação aos efeitos das alterações climáticas.
Esta já deixou de ser a conversa dos maluquinhos do ambiente que atrapalhavam o «desenvolvimento» e que nada deixavam fazer.
Foi por isso interessante notar a presença de muitos presidentes de Câmara na última edição do programa «Prós e Contras» da RTP, sobre as alterações climáticas.
Quando questionado, sobre se havia sido criada nova legislação para travar a construção na orla costeira, António Pina, presidente da AMAL, respondeu que a que existe é suficiente, mencionando o Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL) e as alterações da Reserva Ecológica Nacional.

O que talvez tenha ficado por dizer é que o PROTAL é de 2007 e que 99 por cento da área prevista de construção, na faixa de 500 metros para o mar, já está edificada.
Sobra 1 por cento para construir em zonas onde existe um forte risco de erosão, desaparecimento das praias e necessidade de relocalização das pessoas.
O que não parece ser suficiente para impedir a vontade de construir naquela que é considerada a «última janela para o mar» em Portimão, João de Arens, por exemplo, ou em Vilamoura, na Cidade Lacustre, por ora adiada, mas deve ser sol de pouca dura.
Ou em Armação de Pêra, onde está a ser construído um novo empreendimento de luxo a 30 metros do areal.
Parece ser óbvia a necessidade de um novo PROTAL, mais corajoso e sem regimes de exceção ao sabor do freguês.
Sobre a REN, Pina provavelmente estava a referir-se à alteração do Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional no ano passado, que atualizou os seus princípios fundadores, agora direcionados em primeiro lugar para o planeamento e gestão dos recursos hídricos, e do ciclo da água.
Efetivamente, o presidente da AMAL referiu que a seca é hoje o principal problema do Algarve e que todos os municípios estão altamente empenhados em solucioná-lo, fazendo sempre notar as preocupações relacionadas com os aspetos economicistas do problema – praias e turismo.

Poderia ter escolhido falar do desastre ambiental que é a destruição anunciada das Alagoas Brancas, em Lagoa, uma das mais importantes zonas húmidas da região de acordo com o estudo da Associação Almargem; da pressão imobiliária sobre a lagoa da Foz do Almargem e dos Salgados; do aumento do consumo de água nas monoculturas desadaptadas que proliferam de uma ponta do Barlavento até ao limite do Sotavento.
Também podia ter falado sobre a falta de água em Monchique derivada de más políticas de gestão florestal do território (eucaliptização); da construção de uma nova estrada sobre um espaço de incrível valor – o Centro de Experimentação Agrária de Tavira, principal banco de germoplasma vegetal e de salvaguarda de material genético da região, ou ainda da inexistência de planeamento e monitorização da capacidade de carga da Ria Formosa, mas não foi isso que fez.
Será o limite o infinito e mais além?!
Uma pergunta perspicaz, que originou na sala um burburinho acompanhado de sorrisos tímidos e uns quantos cruzar de braços foi a localização do Aeroporto de Faro, em pleno Parque Natural da Ria Formosa.
É óbvio que com a inevitável subida do nível do mar, o aeroporto terá que mudar de sítio. Não é uma questão de «se», é uma questão de «quando».
O interesse regional nas alterações climáticas confunde-se com a manutenção do motor da sua própria insustentabilidade. O discurso sobre as soluções parece ficar na superficialidade, remendos circunstanciais que não vão ao fundo das questões e não agem sobre a origem dos problemas.
Por exemplo, o PIAAC da AMAL, sendo um documento orientador de extrema importância, não é vinculativo. Só o aplica quem quiser.
Ficou claro nesta última apresentação na UAlg, que a redução do consumo de água na agricultura e da área agrícola disponível, não está em cima da mesa, porque, apesar de este ser um documento científico, as decisões sobre como agir e o que fazer, são sempre políticas.
Além disso o Plano é muito mais direcionado para a adaptação às alterações climáticas do que para a sua mitigação.
Por quanto tempo mais o Algarve poderá viver acima das suas possibilidades?
Esta foi também a semana das respostas que ninguém viu.
A deputada do PAN na Assembleia Municipal de Albufeira, Vera Belchior, questionou o executivo sobre qual a razão para as recentes podas radicais de todas as árvores na Avenida 25 de Abril, em Ferreiras, podas de rolagem, que desfiguraram por completo dezenas de árvores adultas.
José Carlos Martins Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira respondeu que não sabia, porque não era jardineiro.

Jorge do Carmo, presidente da Junta de Freguesia de Ferreiras achou que o PAN devia era preocupar-se com as árvores que não são cortadas, e não com as podadas. Mutiladas, diria eu.
Quando muitos dos atuais representantes eleitos para cargos de liderança autárquica não conseguem compreender o mais básico dos básicos sobre a importância vital das árvores no meio ambiente urbano, ainda por cima num contexto de adaptação e mitigação das alterações climáticas, como é que podemos esperar que sejam estes a identificar e encontrar os melhores caminhos para os desafios estruturantes do Algarve no futuro?
A resposta, demasiadas vezes, parece ser só uma: não podemos.
Paulo Baptista | Comissário Político Distrital do PAN no Algarve.