Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional inaugurou o monumento em honra dos três pescadores farenses que salvaram seis aviadores norte-americanos em 1943.
«É uma escultura muito bonita e que mostra algo essencial: a solidariedade entre seres humanos. Sou um homem do mar e vi algumas situações destas. Posso dizer-vos que no mar fazemos tudo para salvar outro ser humano, mesmo o inimigo, se estiver aflito. O facto de um conjunto de pescadores sair para o mar para resgatar vidas que estavam em perigo, diz muito dos farenses e da sua cultura marítima e é isso que este monumento, de forma brilhante, homenageia», discursou o Almirante Henrique Gouveia e Melo, num momento há muito aguardado, ao final da manhã de quarta-feira, dia 7 de setembro, no Largo de São Francisco, junto à muralha da Vila Adentro e à Ria Formosa.
Emocionado, Michael Pease, residente britânico de longa data no Algarve, explicou aos presentes o motivo pelo qual dedicou mais de uma década ao projeto do memorial. «Há cerca de treze anos tomei conhecimento dos acontecimentos ocorridos, quando Jaime Nunes e José Mascarenhas resgataram os seis sobreviventes de um bombardeiro americano», um PB4Y-1 (a versão da marinha do B-24 Liberator), «que caiu ao largo de Faro na noite de 30 de novembro de 1943. É muito apropriado que vários membros da família estejam aqui hoje presentes e quero fazer uma menção especial a Humberto Lopes, genro do José, que tem sido uma força motriz na concretização deste projeto», começou por explicar.
«Achei importante reconhecer e imortalizar este episódio através de um memorial, porque simboliza a coragem de muitos homens do mar portugueses que resgataram a vida de cerca de 2.000 pessoas, das mais diversas nacionalidades, durante a Segunda Guerra Mundial», sublinhou Michael Pease.
«Ao longo deste tempo, tive o apoio de vários privados, em particular de António de Mello e do jornalista Carlos Guerreiro», que descobriu e publicou esta história.
«O trabalho de pesquisa e o livro que escreveu [Aterrem em Portugal] foi uma grande fonte de conhecimento. Foi também ele que estabeleceu contacto com os descendentes vivos de Lyle van Hook», um dos tripulantes da aeronave que José Mascarenhas resgatou. «Ao longo dos anos, Carlos manteve contacto com Lyle van Hook nos Estados Unidos da América até a morte deste, há alguns anos. Posteriormente, manteve contacto com o filho, Barry».
Antes da inauguração, Barry escreveu a Carlos Guerreiro a seguinte mensagem: «Sou extremamente grato por todos os esforços para tornar realidade este memorial. Estou mais do que grato a Jaime e ao seu grupo por terem salvo as vidas que salvaram naquela noite. Rezo para que este memorial nos lembre da bravura daqueles homens e dos esforços para proteger os sobreviventes e devolvê-los ao seu país. Acredito que o mundo, hoje, precisa de mais lembretes e exemplos do que é a verdadeira humanidade e compaixão. Que este memorial seja uma dessas lembranças».
Michael Pease agradeceu ainda à escultora Toin Adams, autora da peça de arte pública, que conseguiu «uma homenagem notável, duradoura e adequada aos marinheiros portugueses em geral e aos pescadores farenses em particular. Dedicou-se totalmente, até às custas da sua saúde, a concretizar este projeto e quero agradecer-lhe publicamente».
Por sua vez, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, depois de agradecer aos promotores do memorial, deixou também uma mensagem de esperança. «A guerra entra hoje pelas nossas casas, devido ao que está a acontecer na Ucrânia e também noutras partes do mundo. Que este memorial possa servir para a aproximação entre povos» e para encorajar, «a construção da paz todos os dias. Já várias pessoas me elogiaram o monumento que tem uma beleza fora do vulgar», disse ainda, dirigindo os elogios a Toin Adams.
Por fim, o autarca congratulou os familiares dos heróis «por aquilo que os vossos antepassados fizeram e por aquilo que ainda hoje representam». A cerimónia ficou ainda marcada pela atuação do fadista Luís Manhita, neto e sobrinho de dois dos protagonistas e pescadores farenses.
Dia marcado por homenagens
No dia em que celebrou os 482 anos da sua elevação a cidade, o município de Faro entregou um conjunto de distinções e homenagens a funcionários, personalidades e entidades coletivas de relevo do concelho, durante a sessão solene, que teve lugar no Teatro das Figuras, na manhã de quarta-feira, dia 7 de setembro.
Cristóvão Norte, presidente da Assembleia Municipal de Faro, lamentou o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na região e no concelho, que espera «por um Hospital Central há 20 anos», e pediu maior participação cívica de toda a comunidade para desenvolvimento do território. Assinalou ainda «repúdio» pela circunstância de, à mesma hora das comemorações do Dia da Cidade, o primeiro-ministro estar a inaugurar a nova toponímia do Aeroporto de Faro», situação que, considera, «configura uma grande deslealdade institucional».
Foram distinguidos com a medalha honoríficas de mérito – grau ouro Artur Nunes da Silva, mais conhecido como «chefe Artur», da Polícia de Segurança Pública; a Arquente – Associação Cultural; o Hotel AP Eva Senses; João José Gago Horta (ex-empresário, deputado e com forte ligação ao movimento associativo – a título póstumo); João Amaro (empresário, diretor da Tertúlia Algarvia); Maria Cabral (docente universitária e ex-presidente da Orquestra Clássica do Sul e Ricardo Colaço (atleta de tiro com arma de caça).
Além destas personalidades, foram ainda distinguidos igualmente com a medalha de mérito – grau ouro quatro antigos presidentes da Câmara Municipal de Faro: José Vitorino, José Apolinário, José Macário Correia e Luís Coelho.
A sessão foi ainda marcada pela atribuição da Chave de Honra da Cidade de Faro, galardão que se destina a agraciar pessoas singulares ou coletivas exteriores pelo seu reconhecido mérito, prestígio ou contributos para a comunidade, ao chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante Henrique Gouveia e Melo.