Fisioterapeuta de Portimão ensina idosos a lidar com quedas

  • Print Icon

Joel Fernandes é um portimonense de 39 anos, licenciado em fisioterapia, com pós-graduações em fisioterapia no desporto e treino personalizado. Desenvolveu um sistema eficaz para ajudar os menos jovens a agir em caso de queda.

Foi um infortúnio familiar que deu origem a algo que pode ajudar uma grande fatia da população.

«A minha avó vivia sozinha num apartamento. Certa noite caiu e não se conseguiu levantar, até que a minha mãe lá chegou, na manhã seguinte. E a razão por que não se conseguiu levantar, não foi qualquer lesão provocada pela queda. Simplesmente, não fazia essa ação há tanto tempo, que perdera os padrões de movimentos que lhe permitissem recuperar. Ainda conseguiu rastejar até ao telefone, mas não foi capaz de o alcançar», recorda Joel Fernandes, fisioterapeuta que trabalhou vários anos com as camadas jovens e seniores do Portimonense Sporting Clube.

«Não há dúvida de que a nossa vida começa no chão, onde nos desenvolvemos durante o primeiro ano, treinando estratégias para nos pormos de pé e andar. Mas aos poucos, à medida que crescemos, vamos perdendo esse contacto com o solo e, mais tarde, chegamos ao ponto de ter medo dele e de sentir grande dificuldade em nos levantarmos, quando caímos, nos deitamos ou ajoelhamos no chão», conta.

«Entanto fisioterapeuta, comecei a questionar-me. Tinha conhecimentos sobre prevenção de quedas, mas não sabia nada sobre o que fazer exatamente, se a queda acontecesse», acrescenta.

Então, «comecei a procurar respostas e a estudar o assunto. Inclusivamente comecei a usar o deitar e levantar do chão como ferramenta de avaliação dos meus pacientes e clientes. Constatei que muitas pessoas têm dificuldade em realizar essa ação. Percebi que os poderia ajudar, simplesmente ensinando-os como se deitar e levantar do chão de uma forma mais simples, segura e eficaz».

Dito desta forma até parece simples, mas a verdade é que o fisioterapeuta desenvolveu um esquema eficaz ao qual chamou «movimento além dos 50».

O sistema tem três componentes essenciais. «Primeiro, a respiração, à base da respiração nasal e utilização do diafragma, que vai oxigenar melhor o corpo e promover uma melhor estabilização do tronco, facilitando a realização dos movimentos. Depois, temos os movimentos no chão. Há quem tenha medo das quedas e veja o chão como um inimigo. Se já estivermos a fazer os exercícios no chão, não há perigo de queda. E consigo mostrar às pessoas que o chão pode ser um aliado. No início, ficam um pouco constrangidas, mas depois começam a desabrochar, por assim dizer, porque o chão dá-nos suporte e segurança. A terceira fase consiste no deitar e levantar do chão. E tenho obtido resultados fantásticos com as pessoas com quem tenho trabalhado», garante.

Ao fim e ao cabo, o sistema elaborado por Joel Fernantes consiste na recuperação das estratégias que desenvolvemos no início da nossa vida, mas que esquecemos ou fomos perdendo ao longo dos anos. Recuperá-las vai ajudar em quase todas as atividades do dia a dia. E como pretende passar a mensagem?

«Comecei com um workshop ao qual chamei movimento para todos. Isto é mesmo para todos, embora a população menos jovem seja mais recetiva a este tipo de trabalho, porque sente mais os benefícios e é para quem estou a direcionar mais o programa. Mas posso dizer que cheguei a usar este sistema com os jogadores do Portimonense, atletas profissionais, no contexto de recuperação ativa, de aquecimento ou pós-viagem. Pode ser feito em casa, não necessita de qualquer equipamento especial, apenas de um pouco de espaço. Eu começo o meu dia com estes exercícios, porque me ajudam a soltar o corpo», explica.

Embora dê aulas em grupo, pretende acima de tudo passar o conhecimento à população em geral, através de workshops e seminários, para que as pessoas possam fazer em casa, à hora que acharem conveniente, sem estarem sujeitas a horários e deslocações a ginásios.

«Nós temos a tendência, na área do fitness e da reabilitação, em complicar demasiado as coisas, quando às vezes são as coisas mais simples que nos dão o maior benefício».

O fisioterapeuta gere o seu próprio gabinete de fisioterapia e treino personalizado em Portimão, na urbanização Vila Rosa, e está disponível através do contacto de telemóvel (918 230 861).

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Recetividade internacional

Joel Fernandes já teve contactos de Espanha, Holanda e Dinamarca, de colegas interessados em promover o seu sistema nesses países. Também já promoveu alguns workshops no Algarve, nomeadamente para a população estrangeira residente, que se mostrou mais receptiva do que a nacional.

Também o usou numa classe de jiu-jitsu, mas baseada na estabilização neuromuscular dinâmica uma técnica checa elaborada a partir dos movimentos dos bebés, no chão, uma das suas bases para o sistema que desenvolveu. Fez um vídeo e os checos gostaram e contactaram-no, perguntando se o poderiam usar nas suas ações de formação.

«Neste momento, estou a fazer alguns vídeos, histórias de pessoas normais, cada uma com dificuldades próprias, que conseguem com estes exercícios melhorar a sua vida no dia a dia. Irei mostrar assim, aos potenciais usuários do sistema, um projeto que se adapta às suas necessidades reais», conclui.

Experiência na primeira pessoa

O autor deste artigo era uma dessas pessoas que temiam o chão, porque tinha grande dificuldade em deitar-se e muito maior em levantar-se. Recuperar algo que caísse para debaixo de um móvel era um sacrifício imenso.

«Um dia, deixei cair a chave do carro para debaixo do mesmo, numa zona sem ninguém, e foi enorme a dificuldade para recuperá-la. Depois de muito esforço, consegui, por fim, levantar-me. Ao fim de algumas de sessões com Joel Fernandes, essas ações tornaram-se fáceis e normais. Atualmente, pratico esses exercícios, que não levam mais de 15 ou 20 minutos do meu tempo, em casa. Nem necessito de o fazer diariamente para me manter com eficácia e também me ajudaram a melhorar o meu equilíbrio», testemunha José Garrancho.