Escolha da nova estrada sobre o CEA foi da Câmara de Tavira diz IP

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Questionada pelo barlavento, a Câmara Municipal diz que a estrada que vai cortar o terreno do Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira é uma obra da «inteira responsabilidade» da Infraestruturas de Portugal. O Instituto público, contudo, tem outra versão.

Depois de Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de agricultura e pescas do Algarve ter confirmado e lamentado que uma nova estrada vai cortar o Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira, terreno imaculado onde há uma valiosa coleção de árvores de fruto, vinha e olival, o barlavento pediu esclarecimentos à Câmara Municipal de Tavira.

Assim, foi enviado um pedido, a 30 de janeiro, via email, endereçado à autarca Ana Paula Martins, ao vereador do Urbanismo, Planeamento e Ambiente João Pedro Rodrigues e ao vereador das Infraestruturas, Logística e Espaço Público José Vitorino Pereira, a questionar se o executivo tem conhecimento de tal intervenção.

Na resposta ao nosso jornal, endereçada pelo Gabinete de Comunicação e Relações Públicas, logo no dia seguinte, a Câmara Municipal de Tavira, diz que «esta é uma obra da inteira responsabilidade da Infraestruturas de Portugal (IP)».

A autarquia acrescenta que a via a construir «surge na sequência da necessidade de eletrificação da linha ferroviária e do consequente encerramento das passagens de nível, o que implica, necessariamente, a criação de uma alternativa para a entrada na cidade».

Por isso, a Câmara Municipal de Tavira considera que «quaisquer informações acerca da mesma, nomeadamente em que fase se encontra, início/conclusão, custos e vantagens, deverão ser solicitadas a esse organismo».

Em relação ao facto da nova estrada poder vir a afetar a coleção de fruteiras e afins, o município de Tavira responde que «tem potenciado a divulgação destas, através de visitas guiadas no âmbito da Feira da Dieta Mediterrânica, em estrita colaboração com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPAlg), e desconhece que a obra possa colocar em questão e prejudicar o trabalho realizado e reconhecido».

A edilidade vai mais longe e sublinha que «neste sentido de divulgação e reconhecimento do trabalho realizado no CEA de Tavira, o município já encetou contactos para, em conjunto com a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e a DRAPAlg, ser avaliada a possibilidade de criação de uma Quinta Ciência Viva, a incluir na Rede Quintas Ciência Viva, possibilitando a transformação deste espaço, criando exposições temáticas e módulos interativos, através dos quais os visitantes, sobretudo as crianças, possam aprender de forma lúdica e com interação com o meio».

Seguindo a sugestão da autarquia tavirense, o barlavento contactou o assessor de imprensa Miguel Gomes Pereira, da Direção de Comunicação e Imagem da Infraestruturas de Portugal (IP), que deu uma explicação diferente.

«No âmbito das intervenções integradas no empreendimento de eletrificação da Linha do Algarve entre Faro e Vila Real de Santo António, encontra-se prevista a reconversão a peões da passagem de nível de Tavira e a construção de um desnivelamento rodoviário», detalha.

No entanto, «durante a elaboração do projeto de eletrificação foram desenvolvidas duas soluções de restabelecimento da circulação rodoviária que foram submetidas à apreciação da Câmara Municipal de Tavira», explica o assessor da IP.

Assim, e «perante as soluções apresentadas pela IP, que foram objeto de reuniões com a Câmara Municipal de Tavira, esta pronunciou-se pela que atravessa os terrenos do Centro de Experimentação Agrária, por ser a que melhor se adequava ao Planeamento e Gestão Urbanística do município».

Ora «tendo por base a preferência da Câmara Municipal de Tavira», a IP garante, no entanto que «ficou assegurado com os contactos desenvolvidos com as entidades, que o traçado rodoviário não afeta, de modo algum, as coleções e o repositório de espécies autóctones de que o CEA de Tavira é fiel depositário e que se localizam noutras zonas» daquele terreno.

Segundo o Resumo Não Técnico do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da Eletrificação da Linha do Algarve, de outubro de 2019, está prevista a construção de uma estrada de 20 metros de largura no terreno do CEA de Tavira, obra que implica ainda a demolição de cinco antigos laboratórios.

A nova estrada terá uma extensão total de cerca de 608 metros e desenvolve-se, no sentido poente-nascente, em espaços com ocupação agrícola predominante (pomar, vinha e áreas incultas) e atravessará toda a área afeta ao CEA de Tavira.

Há «falta transparência» acusa o Bloco de Esquerda de Tavira

O Bloco de Esquerda (BE) de Tavira «lamenta profundamente que tenha sido decidido pelas entidades competentes, de forma definitiva, a construção de uma estrada que atravessa o Centro de Experimentação Agrária de Tavira, sem que para isso os Partidos da oposição e a comunidade tavirense tenham sido convidados a opinar sobre a matéria».

Em nota enviada hoje à redação do barlavento, aquela força política da oposição diz que «questionou em Assembleia Municipal de Tavira, no dia 10 de dezembro último, a presidente da Câmara Municipal, a qual questionada sobre a matéria, informou que desconhecia qualquer processo sobre aquele espaço».

«Pelas declarações do diretor regional da agricultura e pescas, Pedro Valadas Montiero, na última semana, percebe-se que é um processo consumado, e já há algum tempo, levando mais uma vez a que a população do concelho de Tavira fosse afastada de qualquer participação na decisão a tomar».

«Não é esta a forma de democracia que o Bloco de Esquerda pratica e defende. Iremos analisar todo o processo e informar a população sobre o mesmo, com uma clara posição de transparência e de trabalho conjunto com a comunidade».