Empresários e cidadãos juntam-se «Por Quarteira»

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Grupo «Por Quarteira» vai formalizar nova associação apartidária nos estatutos. Objetivo é criar relações de confiança e transparência com várias entidades, de forma a melhorar a vida empresarial, social e cultural da cidade.

O grupo de empresários foi criado há cerca de dois anos, por Damásio Santos (apesar de, para este coletivo, a paternidade da ideia não ser importante) «com o intuito de se lutar por melhores condições para desempenho das nossas várias atividades. Havia temas que não estavam a ser discutidos entre quem decide e quem é influenciado pela decisão», explica Vítor Duro, proprietário do Geladaria Bianco, na marginal.

«Os negócios não estão fortes em Quarteira desde há anos. Passámos por uma altura de grande expansão no turismo, mas aqui, isso não se fez sentir de forma generalizada. Há uma série de medidas que são tomadas nas costas dos empresários e que sentimos que não fazem sentido», diz.

O descontentamento tinha a ver, por exemplo, com forma como eventos ou as obras no espaço público são comunicados.

«Os empresários sabem o programa da passagem de ano, ou do carnaval, ou da feira de verão, da mesma forma e na mesma altura em que a população é informada. Estão desconectados da vida empresarial local. Assim, torna-se difícil trabalhar em condições», diz. Entretanto, ainda numa fase embrionária, o grupo ficou adormecido.

Com a crise da COVID-19, «as empresas paradas, as medidas do governo tardavam em chegar, os bancos a demorar nas linhas de crédito e nas moratórias, a Segurança Social a demorar na aprovação dos layoff, sentimos que as associações empresariais não estavam a dar as melhores respostas à situação. Multiplicavam-se as propostas enviadas ao governo, às entidades, mas sem qualquer resultado prático».

Então, «decidimos reanimar o grupo. Juntámos um núcleo duro de sete elementos e elaborámos um manifesto que enviámos a 21 de abril a várias entidades. A inovação foi que não enviámos propostas, mas apenas pedimos para falar, para sermos recebidos. Em dois dias recolhemos mais de 100 assinaturas para o manifesto, e isso, sem dúvida, deu-nos força», recorda.

Segundo Vítor Duro, não havia uma auscultação regular e periódica da autarquia de Loulé aos empresários.

«Não. Dizia-se que não queriam dialogar. Mas a verdade é que fomos bem aceites quando pedimos para o fazer. É uma abordagem que se calhar não tinha sido feita assim», admite.

«Conseguimos aproximar os empresários das entidades decisoras para discutir soluções concretas que faziam sentido».

Outro motivo que justifica o sucesso é que «no nosso manifesto é declarado que somos apartidários, independentes de qualquer força política e o que queremos é encontrar soluções para o comércio tradicional na cidade», reforça.

«No concelho de Loulé há 20 empresas por cada 100 habitantes, se extrapolarmos que por cada empresário pode depender um agregado de três pessoas, então são 60 pessoas em cada 100 a depender diretamente do sucesso de um pequeno negócio», estima.

Desde então, o grupo Por Quarteira já reuniu várias vezes com a Câmara Municipal de Loulé, «sempre numa postura construtiva de quem sabe que o executivo é que foi eleito e mandatado para decidir, mas não nos abstendo de dar todos os contributos que julgamos necessários e exigindo mais das entidades com capacidade para atenuar a grave crise que vivemos».

Conceito Cidade-esplanada é realidade

«Convidámos uma delegação da Câmara a vir aqui a Quarteira», desafio que foi aceite, no dia 25 de maio, para se discutir, entre outras, o conceito de cidade-esplanada. «Esta foi uma das primeiras medidas que apresentámos e que o executivo respondeu que já estava a ponderar. Aprimorámos a proposta e participámos na solução. No fundo, as vontades e as ideias não estavam assim tão distantes. Faltava o diálogo», diz Vítor Duro.

Assim, desde sábado que, a partir das 20 horas, a Avenida Infante Sagres é fechada ao trânsito automóvel e as esplanadas podem crescer e ocupar a estrada. «Há duas ideias centrais. A possibilidade dos estabelecimentos de restauração, comidas e bebidas poderem aumentar o espaço de esplanada, de forma a manter o número de lugares, adaptados às regras de segurança da pandemia. Por outro lado, consegue-se libertar esta frente de mar de carros, permitindo às pessoas desfrutar do espaço, aliviando a carga automóvel».

«Esta intervenção permite melhores condições aos comerciantes e aos transeuntes. Há algumas queixas por terem sido retirados cerca de 70 lugares de estacionamento, mas são muito mais as reações positivas que as negativas, pois uma frente mar nunca pode ser um parque de estacionamento, e num ano em que o turismo deverá ter uma quebra de 50 por cento, isso não é importante», acrescenta.

E reforça: «foi muito interessante verificar que não foi necessário gastar pequenas fortunas para se alterar a imagem da nossa frente mar, e este trabalho será para continuar. É preciso enaltecer a rapidez com que a Câmara respondeu ao desafio e a qualidade da solução», conclui.

Para o empresário Damásio Santos, «é muito urgente haver um silo automóvel no centro de Quarteira. Nas pontas há estacionamento, mas no centro, onde há comércio e serviços, não há. Deveria haver um silo para 500 carros porque irá funcionar sempre, quer com os habitantes locais que vão alugar sítios, quer com quem nos visita. Com isso conseguiria melhorar-se a ciclovia».

Massa crítica precisa-se,mas independente

Ainda de acordo com o empresário Vítor Duro, «estamos muito entusiasmados com o que temos feito, e queremos continuar. Por isso, estamos em processo de criar uma associação formal. Ponto de honra é que terá nos estatutos uma cláusula que impede qualquer cidadão com cargos políticos (até deputado municipal) de fazer parte dos órgãos sociais. Queremos ser sempre apartidários, e qualquer dirigente que abrace um desafio político, com toda a legitimidade, terá de sair dos órgãos sociais. Não queremos limitar direitos a ninguém, mas é importante defender a independência da associação que nasce para os empresários e cidadãos», sublinha.

Qual é o requisito para alguém se associar? «Tem de ser alguém com visão, dinamismo e vontade de trabalhar. Nós queremos ideias para o bem de todos. Temos uma preocupação social e cultural para a cidade» e exemplifica. «Há um grupo de músicos que se quer juntar a nós, que com esta situação do COVID-19, ficaram sem trabalho. Queremos ajudar. A nossa perspetiva é podermos trabalhar todos juntos». O grupo também já desafiou os artesãos locais a organizarem-se e a juntarem esforços. «Vamos precisar de massa crítica. Temos ideias muito boas, e nós queremos ser independentes, financeiramente, de entidades».

Por fim, o empresário não poupa críticas às associações empresariais existentes. «Que resposta deram em relação à COVID-19? Eu não sei. Temos aqui uma bomba atómica a rebentar. O Algarve tem neste momento o turismo numa miséria. As pontes aéreas a não funcionar, e não se sabe nada do que se passa com as grandes associações. Se sentimos que os interesses da população não estão a ser defendidos, teremos de nos unir para nos defendermos a nós próprios».

Resumo de propostas e medidas apresentadas pelos empresários à Câmara Municipal de Loulé

• Atuação nos alugueres e impostos;
• Autarquia mais «aberta» e de fácil acesso ao empresário. Os empresários queixam-se muito que não são «tidos nem achados» nas decisões da autarquia que os afetam e aos seus negócios;
• Criação de projeto históricos e culturais com o apoio da população, e talvez liderado pela Junta de Freguesia para fazer crescer a zona turística para Quarteira antiga, através de pequenos espetáculos com artistas locais;
• Criar postos de distribuição gratuita de gel álcool e presença notória de equipas de limpeza;
• Desinfeção esplanadas e espaço público;
• Disponibilização de equipamentos de proteção individual tanto a empresas como a particulares;
• Fomentar economia circular;
• Isenção de taxas e licenças camarárias até final ano, incluindo licença especial ruído;
• Maior destaque ao Posto de Turismo que está pouco visível;
• Mudar a imagem da cidade;
• Partilha e promoção de programas ajuda (Turismo, Estado, Europa) sessões esclarecimento;
• Patrocínio na compra de EPI até chegar ajuda do Estado;
• Promoção ativa dos sistemas de apoio em vigor;
• Promover o destino com uma forte campanha de marketing para promover «destino seguro»
• Revista e flyers de Quarteira aproveitando a base dados da aplicação criar suportes físicos para distribuição;
• Selo Garantia Municipal para todos os comércios com porta aberta;
• Selo Garantia para Alojamento Local. Os alojamentos poderiam ter um selo próprio para transmitir maior confiança;
• Subsídios à manutenção emprego.