A Corticape, empresa sediada em Faro, produz anualmente cerca de 70 milhões de cápsulas para bebidas premium.
Produção anual da Corticape ronda os 70 milhões de unidades. Quase a totalidade das cápsulas são exportadas para todo o mundo, em bebidas premium como gins, whiskeys, vodkas e runs.
O Hendrick’s Gin é uma marca produzida e destilada na Escócia, mas a característica tampa da garrafa é produzida numa pequena fábrica de plástico, escondida numa rua discreta na capital algarvia, que lhe fornece os cerca de 5 milhões de cápsulas que necessita por ano. Mas este é apenas um exemplo, segundo contam Miguel e André Morgado, sócios-gerentes desde 2010, pai e filho, respetivamente e únicos acionistas da empresa.

A Corticape – Sociedade de Cápsulas para Cortiça, Lda., «nasceu no início de 1974. O meu pai era sócio de uma fábrica de cortiças que existia onde hoje é o edifício da sede distrital da Segurança Social, que além de fabricação, dedicava-se à exportação de rolhas (tapered corks) para a Europa, Estados Unidos (para vinhos) e América Latina (para Runs). Nos EUA, como não era comum o uso de saca-rolhas, usavam-se rolhas com cápsula de plástico. Na altura, o meu pai comprava-as a uma fábrica de plásticos que existiu em Faro e que fazia outras coisas (como gaiolas de pássaros e flores). Acontece que faliu em 1973, e de um dia para o outro, viu-se sem fornecedor. Pensou que teria de ser ele a fabricá-las», recorda Miguel Morgado, engenheiro mecânico.
Resumindo, «como não tinha capacidade sozinho, convidou mais dois sócios corticeiros e arrancaram», dois meses antes do 25 de Abril. «Adivinhavam-se tempos muito difíceis, logo numa fase em que tínhamos acabado de fazer investimentos muito grandes e uma carteira de clientes muito reduzida». Terminados os estudos, Miguel Morgado começou a trabalhar na Corticape como diretor fabril e depois assumindo os destinos da empresa.
«Continuamos, e lancei-me para uma série de outros clientes. Fui à procura, comecei a diversificar, inclusivamente, produzindo outros produtos com a injeção de termoplásticos. Chegamos a fabricar filtros para ETAR. Voltamos, depois, às cápsulas. Fomos pioneiros em implementar sistemas de gestão da qualidade, o que nos diferenciou da nossa concorrência, que era e continua a ser pequena».
«Hoje, vendemos para fabricantes de rolhas de cortiça e de vedantes de plástico. Fabricamos única e exclusivamente a parte das cápsulas» e cerca de 95 por cento é exportado. Parece simples, mas «a nossa empresa é certificada (ISO 9001:2000) e cumprimos escrupulosamente uma série de compromissos e procedimentos. Apenas utilizamos matérias-primas aprovadas pela norte-americana Food and Drug Administration (FDA) e por todos os regulamentos da União Europeia», refere. «A maioria da nossa produção é para o mercado internacional de bebidas topo-de-gama», refere Miguel.
«Os vinhos do Porto optaram por vedantes de forma a poderem reduzir custos ao máximo para poderem concorrer com outros vinhos licorosos, por exemplo, de países com a Bulgária. Mas já fomos dos seus principais fornecedores, no tempo em que havia alguma preocupação com a rolha e com a cápsula utilizada», recorda.
As cápsulas são vendidas às 1000 unidades. Um milheiro das peças mais baratas de fabricar custa nove euros. Mil peças das mais caras do portfólio podem custar até 600 euros. O preço depende da complexidade do molde, dos tempos de ciclo de produção e da densidade do material usado.
«Teoricamente não temos desperdícios. O que material que sobra é triturado e volta a entrar na produção, com aproveitamento na ordem dos 25 por cento. Não temos refugo nem materiais jogados ao lixo. Tudo é reaproveitado, mas ainda assim uma boa parte dos nossos clientes começa a exigir cápsulas fabricadas com materiais reciclados».
O responsável não esconde que «o plástico é diabolizado como sendo o principal responsável de todas as maleitas no mundo. No entanto, dentro desta indústria há uma preocupação enorme em arranjar alternativas que tenham pegadas de carbono baixíssimas ou mesmo nulas».
Miguel Morgado antevê uma enorme mudança a curto prazo impulsionada pela consciência ambiental dos consumidores que pressionam toda a cadeia de produção.
«Hoje o que existe são produtos bio-based, que usam óleos alimentares em vez da nafta do petróleo. Espera-se que a partir de 2025 esteja disponível plástico reciclado, amigo do ambiente, com certificação alimentar, semelhante ao produto virgem. Está a ser testado um processo de reciclagem química» para o efeito.
A Corticape emprega 22 pessoas e trabalha 24 horas por dia, em três turnos de oito horas rotativos na parte da produção, nas máquinas de injeção. «Habitualmente, enchemos um camião TIR à segunda-feira de manhã», revela. O fluxo de encomendas é relativamente estável embora afine pelo compasso da economia mundial. «Estes dias seriam de maior pressão, pois estamos em antevésperas de Natal. Este ano, presumo que devido à situação de guerra e instabilidade, está um pouco mais calmo», admite o gestor sénior.
Questionado sobre a importância do apoio do CRESC Algarve 2020, responde que é mais um passo na senda de investimento e modernização tecnológica da empresa. «Sim, foi importante para a aquisição de uma máquina de injeção de plásticos de 180 toneladas de força de fecho. Substitui uma máquina que tinha de 80 toneladas de força» que foi desativada. «Esta nova máquina, apesar de ser maior, terá uma redução de consumo energético entre 20 a 30 por cento», compara.

«Estamos prestes a celebrar 50 anos. Felizmente, ainda existem algumas empresas familiares, mas saudáveis, não é muito vulgar no Algarve», remata.
Objetivo futuro é aposta no setor farmacêutico
O projeto NTC (Novel Thermoplastic Capsules) da Corticape visou reforçar a incorporação de tecnologia nos seus produtos por via da aquisição de equipamento de ponta, para responder à crescente exigência do mercado e gerar melhorias na eficiência do processo produtivo, e gerar maior valor acrescentado. O objetivo foi incrementar a capacidade de produção em pelo menos 20 por cento e diversificar mercados, sobretudo no sector farmacêutico. O investimento aprovado foi de 158.243,00 euros (158.243,00 euros elegível, com 63.297,20 euros aprovados pelo FEDER).