Comparticipação do Fundo Ambiental pode salvar Alagoas Brancas

  • Print Icon

Cidadãos revelam que a compra do terreno das Alagoas Brancas ao promotor, por parte da autarquia de Lagoa, está em cima da mesa.

O Movimento Cívico Salvar as Alagoas Brancas reuniu-se com Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, na terça-feira, dia 17 de outubro. Durante o encontro, segundo os cidadãos, o autarca «reafirmou as declarações prestadas na última Assembleia Municipal de Lagoa, ou seja, há uma nova opção para solucionar a questão».

De acordo com uma nota do Movimento, há duas opções que estariam a ser avaliadas, «mudar o loteamento ou mudar a zona húmida, opção firmemente contestada e combatida» pelos cidadãos. Agora, a nova opção em cima da mesa, é a compra do terreno aos promotores» imobiliários. Um negócio que poderá vir a ter comparticipação do Fundo Ambiental, e que está «a ser negociada» pelo autarca.

Ainda segundo o mesmo documento, que cita Luís Encarnação, «as negociações com o promotor e outras entidades têm corrido bem e dentro em breve poderá haver uma solução para as Alagoas Brancas» e para preservar «toda a sua riqueza ecológica. Se tudo correr bem e a nova possibilidade for conseguida com sucesso, as Alagoas Brancas serão renaturalizadas e protegidas para as futuras gerações».

O Movimento informa ainda que entregou um segundo abaixo-assinado junto da Comissão de Petições da Assembleia da República, no dia 18 de outubro. Desta vez, o movimento introduziu acima de 8000 subscrições e foram elegíveis cerca de 7700 peticionários. A petição encontra-se desde então fechada e será dentro em breve levada a discussão no plenário do Parlamento.

No entanto, «nunca é demais lembrar que as Alagoas Brancas ainda não estão salvas.

Nada está escrito em pedra. Daí não podermos, por enquanto, dizer que tudo está resolvido. Podemos sim dizer que, ao dia de hoje, parece que por parte dos responsáveis políticos e das entidades responsáveis estará sendo desenvolvido um bom caminho».

O Movimento refere que, em conjunto com a Cidade da Participação, acompanhou a visita de um grupo de especialistas botânicos às Alagoas Brancas, no dia 20 de outubro.

O coletivo foi liderado pelos especialistas Udo Schwarzer, membro do International Union for Conservation of Nature (IUCN)/ Species Survival Commission (SSC), Claudia Schwarzer (arquitecta paisagista), Ute Jandt e Helge Bruelheide (Martin Luther University Halle-Wittenberg, Alemanha) e pelas biólogas Nadja Velez e Ana Marta Costa, para uma «prospeção atenta» a todo o local.

Desta visita, «pode adiantar-se que estrela-dos-juncais (Damasonium bourgaei) está em abundância por toda a área. É uma planta nunca dantes vista por alguns dos botânicos com anos de experiência de campo. A população encontrada nos primeiros registos e que constam no INaturalist foi considerada a maior a nível nacional. Nesta segunda prospeção encontraram-se várias populações em várias áreas das Alagoas Brancas. Uma autêntica «Damazónia» como referiram os especialistas no entusiasmo».

Segundo os botânicos alemães, «a estrelinha-dos-juncais é uma espécie de planta aquática rara ao nível europeu e classificada como Em Perigo em Portugal  A planta representa um habitat de solos argilosos e inundados por prolongado tempo durante o ano. Habitats deste tipo no clima mediterrâneo são extremamente raros e merecem ser totalmente protegidos. Destruir um habitat deste era tão louco como destruir o Parque Nacional de Doñana porque este é um dos poucos outros sítios no mundo onde existe este habitat raríssimo também».

Este tipo de habitat que aflora em grande parte das Alagoas Brancas encontra-se classificado em áreas abrangidas pela Rede Natura 2000 (Plano sectorial 3130).

O «bom caminho», em boa verdade, teve um primeiro passo no dia 28 de agosto, numa reunião que juntou várias ONGs do ambiente (GEOTA, Cidade da Participação, LPN e Almargem) em Lisboa, com o ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, na qual, o governante «garantiu-nos que apoiaria uma solução para as Alagoas Brancas com o dinheiro do Fundo Ambiental. Esta medida, que já tinha sido anteriormente abordada e solicitada pelo movimento, é um sinal de mudança e de muita esperança se realmente esta zona húmida de água doce vier a ser salva».