Associação Algarvia lançou a primeira pedra das futuras instalações e respostas sociais à deficiência, na zona da Lejana, em Faro.
Uma cápsula do tempo com uma mensagem para as gerações futuras juntou amigos, dirigentes e colaboradores da Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais (AAPACDM), na manhã de sexta-feira, dia 24 de junho.
«Hoje é um dia mais do que desejado. É um dia sonhado. É um dia pelo qual se bateram várias gerações de homens e de mulheres livres, todos motivados pela coragem de travar um combate desigual. Um combate pela afirmação de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais inclusiva. Pela afirmação de uma sociedade que rejeita a indiferença e que rejeita a ideia que uns são naturalmente inferiores e outros naturalmente superiores. Que a sabedoria presida à construção deste edifício. Que a beleza do amor o decore. E que a força o complete, no travar de um combate tão necessário quanto inacabado. O combate pela erradicação das desigualdades, da exclusão e do preconceito. Estamos cá com todos e para todos», disse Carlos Roque Figueira, presidente da Assembleia Geral da Associação Algarvia.
Dando o crédito da «tarefa ciclópica» de avançar para a construção de novas instalações, Jorge Leitão, presidente da direção elogiou a sua antecessora Eliane Cruz, ex-médica pediatra no Hospital de Faro, ligada a esta causa desde 1991 e que veio de propósito do Brasil para assistir à cerimónia.
«Não teria sido possível, em termos de factualidade adjetiva, sem o grande trabalho e esforço que fez. Será sempre uma pessoa muito importante à instituição», reconheceu o dirigente.
Eliane Cruz recordou que «entrei na associação como médica contratada. Depois, estive 12 anos na presidência [da direção] e de facto, construir um lar era um sonho. Mas não era apenas um sonho meu. Vou dar-me ao direito de falar em nome dos pais [dos utentes]. Talvez sejam os únicos pais que têm preocupação por morrer antes dos seus filhos por causa do abandono, por causa de quem irá cuidar deles com igual carinho e amor. Isso foi sempre muito forte para mim. O lar é uma resposta essencial para esses pais», considerou.
E deixou um pedido especial à atual direção. «Façam com que seja um sítio onde esses jovens se sintam em casa. Que não seja um local muito técnico nem muito pesado ou com ar de abrigo. Que seja, de facto, uma casa onde todos se sintam bem e onde possam ser felizes. Deixo este pedido nas vossas mãos», desejou.

A médica também deixou uma palavra especial aos colaboradores da AAPACDM. «Não é fácil trabalhar com esses jovens. Temos de ter muito amor por eles, porque são difíceis. Os pais amam-nos porque são pais, mas os funcionários não têm obrigação nenhuma de os amar. Mas é isso que sentimos quando trabalhamos com eles. Cria-se um amor muito grande. O trabalho que os colaboradores fazem é de muito valor porque tem um papel emocional e afetivo muito grande», sublinhou.
Na melhor tradição brasileira, «nas favelas do Rio de Janeiro, temos sempre um puxadinho. É um quarto ou um espaço onde se pode receber a família e amigos. Espero que consigam fazer um aqui para mim, para quando estiver aposentada poder vir cá. Estou muito feliz de estar aqui a presenciar o início deste sonho», disse.
«Quando fui embora» por razões familiares, «o mais difícil, foi sair da Associação Algarvia. Foi o que mais me custou no regresso ao Brasil. Mas quem sabe se ainda virei», concluiu.
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, felicitou a instituição e a concretização da obra. «Aquilo que estamos hoje a fazer é fruto de muito trabalho, de uma aspiração muito grande da direção, de todos os técnicos e utentes. Espero que este seja o primeiro dia da materialização do sonho de criar melhores condições para todos». Este é «um trabalho que exige muita dedicação, muito empenho pessoal, e que dá resposta às necessidades dos utentes de todo o Algarve. Da nossa parte, continuaremos disponíveis para ajudar quer os que trabalham quer os que usufruem desta instituição», prometeu o autarca, no uso da palavra.

Carmen Raposo, representante da Segurança Social, apontou que «vai ser um grande dia quando abrirmos a porta. Mas este dia também é importante porque a partir daqui vamos ver o evoluir desta que será uma grande casa. Estamos a falar de respostas sociais de que temos grande carência, e efetivamente é de louvar toda a dedicação que foi dada a este projeto. Há mais projetos no prelo e estamos a trabalhar para que esta seja uma grande instituição».
E porque «a gratidão é a memória do coração», Jorge Leitão leu aos presentes a mensagem que ficou depositada nas fundações de um dos edifícios. «Como recomendação aos vindouros, destacamos a necessidade da continuação da luta pela paz, neste momento atual tão contornado pela guerra, pela real igualdade de todos os seres humanos sem qualquer exceção, criando as condições necessárias para que possam viver com toda a dignidade nos seus países e de uma forma muito especial, a necessidade da luta pela salvação do nosso planeta onde a atuação do homem tem sido especialmente nociva, ditando as alterações climáticas, o desaparecimento de espécies e pondo em risco a sobrevivência da humanidade».
Financiamento europeu fundamental para a obra
O Programa Operacional (PO) Regional do Algarve financia a construção do Lar Residencial e Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) da Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais (AAPACDM), orçado em 3,16 milhões de euros.
A representar José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve que, por motivos de agenda, não pôde estar presente, Filomena Coelho, secretária técnica do PO CRESC Algarve 2020 lembrou o caminho percorrido.
«Este dia é simbólico porque marca a separação entre todo o trabalho invisível», que demorou cerca de dois anos, e que a partir de agora «passará a ser visível. Começa com a abertura de um aviso de 4,5 milhões de euros do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) para apoiar equipamentos sociais. Tínhamos a certeza que teria muita procura face ao mapeamento que foi feito junto da Segurança Social e que identificava o Algarve como uma das regiões mais carenciadas neste tipo de infraestruturas. A nossa ambição é que, com esta taxa de 60 por cento de comparticipação a fundo perdido, consigamos fazer com que o maior número de equipamentos possam ver a luz do dia. Tivemos uma boa resposta por parte dos municípios, todos eles apoiaram do ponto de vista técnico, financeiro ou com a cedência de terrenos. Isto significa que conseguimos fazer um investimento muito superior ao FEDER que alocámos a estas áreas. Tivemos 28 candidaturas na plataforma. Conseguimos, em conjunto com a Segurança Social, aprovar sete equipamentos e este é um deles», cujo termo de aceitação foi assinado em fevereiro de 2021.
Agora, «iremos acompanhar com um técnico em obra todos os meses. A AMAL irá acompanhar a verificação das despesas e o nosso objetivo é olear a máquina para reembolsar as faturas que nos forem chegando» todos os meses. A empreitada foi adjudicada por concurso público ao Grupo Rolear e tem um prazo de 20 meses.
Um projeto para o futuro
O edifício será composto pelo Centro de Atividades Ocupacionais (CAO), Lar Residencial (LR), zona administrativa e de serviços, encontrando-se na zona administrativa tudo o que é comum às duas respostas sociais, como os serviços de apoio. Na zona de CAO haverá salas de atividades, de fisioterapia e ginásio. Na zona do lar, além dos quartos está prevista uma sala de convívio. Numa primeira fase pretende-se uma capacidade para o CAO de 32 utentes e para o Lar Residencial de 30 utentes. A localização do edifício permite ampliar o projeto caso venha a ser necessário. Representa um investimento de 3,3 milhões de euros.