Os festivais Afro Nation e Rolling Loud trouxeram dezenas de milhares de pessoas ao Algarve durante duas semanas consecutivas.
Com o fim dos festivais internacionais de música Afro Nation e Rolling Loud, que se realizaram na Praia da Rocha, em Portimão, e trouxeram dezenas de milhares de pessoas à cidade e artistas de renome como 50 Cent, Burna Boy, Travis Scott e Meek Mill, é agora possível perceber o impacto que tiveram nos negócios locais.
Este é já o segundo ano consecutivo em que decorrem ambos os eventos com realização anual garantida até 2025, de acordo com a organização e com a presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, que destacou o facto de posicionarem a cidade «como um destino de festivais de música» e anteciparem «Agosto em Junho», o que acredita ser «positivo e transversal aos diversos setores da economia».
Para os organizadores do Afro Nation e do Rolling Loud, que são os mesmos, o primeiro festival proporcionou «uma celebração única de música, dança, comida e cultura» que «rapidamente ganhou influência cultural global», enquanto o segundo – que se segue ao «Rolling Loud Roterdão e precede o Rolling Loud Alemanha – é o festival europeu original do Rolling Loud», traz «os melhores e continuará a ser um festival singular nos próximos anos».
Desde restaurantes, alojamentos locais a empresas marítimo turísticas, todos viram disparar o número de clientes vindos de todo o mundo para assistir a concertos épicos, primeiramente de Afro beats, de 28 a 30 de junho, e depois de Rap e Hip-Hop, de 5 a 7 de julho.

Restauração
Os donos do restaurante e snack bar Vasco da Gama, situado na rua dos bares da Praia da Rocha, tiveram de aumentar o número de trabalhadores para dar resposta à afluência de clientes durante as últimas duas semanas e alargaram as horas de funcionamento até ao limite, ou seja, 4h00 da manhã.
Em comparação com os anos em que Portimão não acolhia estes festivais, Madalena e Sérgio Costa revelam ao barlavento que a faturação «mais do que quadruplicou», o que «foi uma grande ajuda em termos financeiros», fazendo por isso um balanço «bastante positivo».
No Algarve, a altura em que os negócios locais mais lucram é agosto, quando portugueses de todo o país rumam até ao sul para desfrutar do calor e das praias, contudo para os donos do Vasco da Gama, o período em que se realizam os dois festivais supera esse mês «porque o tipo de cliente, principalmente o do Afro Nation, não olha a gastos».
Como tal, esperam que se continuem a realizar, defendendo que não só ajuda o comércio e a cidade em termos económicos como dá visibilidade à cidade e ao país. Quanto ao facto de poderem causar incómodo aos residentes, argumentam que em nada difere do que já estão «habituados no mês de Agosto».
Alojamento Local
Também quem tem apartamentos a funcionar como Alojamento Local partilha esta opinião. Arminda Martins, que tem várias propriedades em Portimão e trabalha com plataformas de reservas internacionais, afirma que «o impacto foi muito positivo com ocupação a 100%».
«As reservas foram feitas com muita antecedência» por parte de clientes de várias nacionalidades provenientes da América, Ásia e Europa, confessa ao barlavento ao salientar que estes eventos «ajudam muito a economia, sobretudo a hotelaria e comércio local que faturam bastante», o que a leva a concordar «plenamente» com a sua realização.
Empresas marítimo turísticas
Outro dos setores que experiencia alteração no número de clientes são as empresas marítimo turísticas que, tal como Madalena e Sérgio, notam uma distinção entre os festivaleiros dos diferentes estilos musicais. «Os do Afro Nation são os melhores clientes e os mais respeitadores», confessa o comercial da Discover Tours, André Gonçalves, ao barlavento.
Como a quantidade de clientes «foi idêntica a 2022», a empresa estava já preparada para o aumento do volume de trabalho que se verificou através da lotação tanto de passeios de catamarã, com duração de 3.5 horas, como de reservas de barcos para a realização de festas privadas que serviram para celebrações antes da entrada no recinto e nos dias após o festival.
Como o ponto de partida das viagens é na Marina de Portimão, André explica que se sente prejudicado dado que a praia onde a Discover Tours opera é privatizada para os festivaleiros VIP. Por esse motivo e pelo acesso restrito a uma parte da Praia da Rocha, os restantes clientes acabam por evitar a zona.
Esta situação deixa não só a empresa insatisfeita como os residentes e turistas que questionam os trabalhadores onde podem fazer praia, acabando por escolher Ferragudo, para onde se deslocam numa viagem de ferry, evitando assim os passeios para ver as grutas ou golfinhos bem como desportos aquáticos.

Turismo além Portimão
Também na Praia da Luz, em Lagos, se sentiu o impacto de ambos os eventos, porém mais acentuado na semana em que decorreu o Afro Nation. «Houve uma enorme afluência de turistas com bom poder de compra que procuraram muito os nossos serviços», contou ao barlavento um dos nadadores salvadores da praia que opera para a concessão da empresa Chico Time Watersports, Gonçalo Guerreiro.
Também esta empresa sentiu necessidade de alargar o horário de funcionamento «para dar resposta a todos os festivaleiros que queriam praticar desportos aquáticos», vindos maioritariamente de França, Inglaterra e Estados Unidos.
Nesta altura do ano a Chico Time regista, em média, cerca de 15 passeios de wakeboard e motas de água, número que duplicou durante o evento de Afro beats, equiparando-se a «um dia bom de Agosto».
No geral, os empresários mostram-se gratos pelo retorno que obtêm dos festivais e, em comum, percecionam que públicos diferentes têm também gastos e repercussões distintas para a cidade.
Para esta reportagem, o barlavento contactou a vereadora da Cultura, Teresa Mendes, e o vice-presidente da Câmara Municipal de Portimão, Álvaro Bila, que não se disponibilizaram para prestar declarações.